Fisioterapia Neurofuncional em Pacientes com Espasticidade

 

 

A espasticidade é uma condição neurológica caracterizada pelo aumento anormal do tônus muscular, levando a uma resistência aumentada ao movimento passivo e resultando em rigidez muscular. Comum em pacientes que sofreram lesões no sistema nervoso central, como acidente vascular cerebral (AVC), paralisia cerebral, esclerose múltipla e lesões medulares, a espasticidade pode comprometer significativamente a funcionalidade, a qualidade de vida e a capacidade de realizar atividades diárias.

A fisioterapia neurofuncional desempenha um papel fundamental no tratamento da espasticidade, utilizando uma combinação de técnicas para reduzir a rigidez muscular, melhorar a mobilidade e prevenir complicações secundárias. Vamos explorar algumas das principais estratégias utilizadas pelos fisioterapeutas no manejo da espasticidade.

1. Exercícios de Mobilização e Alongamento Muscular

A mobilização e o alongamento são fundamentais para combater a rigidez muscular associada à espasticidade. Os exercícios de alongamento visam aumentar a flexibilidade e a amplitude de movimento das articulações afetadas, enquanto os exercícios de mobilização ajudam a restaurar a função articular.

• Alongamento passivo e ativo: O alongamento passivo envolve a ajuda do fisioterapeuta para alongar o músculo, enquanto o alongamento ativo permite que o paciente faça os movimentos por conta própria, sempre respeitando os limites da espasticidade.
• Alongamentos diários: A realização regular de alongamentos pode ajudar a manter a mobilidade articular e a prevenir deformidades, além de reduzir o risco de contraturas musculares.
• Exercícios de flexão e extensão: Focam em aumentar a mobilidade das articulações, especialmente nas áreas mais afetadas pela espasticidade, como os cotovelos, joelhos e tornozelos.

2. Estimulação Elétrica Neuromuscular (EENM)

A Estimulação Elétrica Neuromuscular (EENM) é uma técnica eficaz no manejo da espasticidade. Ela utiliza impulsos elétricos de baixa frequência para estimular os músculos e ajudar a reduzir a rigidez muscular.

• Estimulação para relaxamento muscular: A estimulação elétrica pode ser usada para ajudar a diminuir a tensão dos músculos espásticos, promovendo o relaxamento muscular.
• Melhora da contração muscular voluntária: Além de reduzir a espasticidade, a EENM pode melhorar a função muscular, estimulando as contrações musculares em pacientes que apresentam fraqueza muscular associada.

3. Técnicas de Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (PNF)

A Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (PNF) é uma abordagem terapêutica que utiliza padrões de movimento específicos para melhorar a mobilidade, força e controle motor. A técnica PNF pode ser aplicada em pacientes com espasticidade para ajudar a melhorar a coordenação muscular e reduzir a resistência muscular.

• Padrões diagonais e espirais: Os exercícios PNF são baseados em padrões diagonais que imitam os movimentos naturais do corpo. Eles ajudam a promover a sinergia entre os músculos agonistas e antagonistas, diminuindo a espasticidade e melhorando a mobilidade.
• Facilitação e resistência: Os fisioterapeutas aplicam resistência durante o movimento para estimular os músculos a se contraírem de forma coordenada e eficaz.

4. Técnicas de Mobilização Neural

A espasticidade pode ser exacerbada por aderências ou compressões nos nervos periféricos. A mobilização neural visa melhorar a mobilidade dos nervos, aliviando a compressão e restaurando a função motora.

• Técnicas de deslizamento neural: Essas técnicas ajudam a liberar os nervos comprimidos e a melhorar a condução nervosa, o que pode reduzir a rigidez muscular e melhorar a amplitude de movimento.
• Mobilização dos nervos periféricos: Técnicas como o alongamento dos nervos ciáticos, femorais e radial ajudam a aliviar a espasticidade nas extremidades e a melhorar a função motora.

5. Treinamento de Marcha e Postura

Pacientes com espasticidade frequentemente enfrentam dificuldades em manter uma postura adequada e realizar movimentos funcionais, como caminhar. A fisioterapia neurofuncional dedica-se a reabilitar esses movimentos básicos e essenciais para a mobilidade.

• Exercícios de marcha: Técnicas como a utilização de andadores, órteses ou suportes podem ser combinadas com exercícios de marcha para melhorar a mobilidade, reduzir a rigidez e prevenir quedas.
• Correção postural: O fisioterapeuta trabalha para melhorar a postura do paciente durante atividades diárias, ajustando alinhamentos musculoesqueléticos que podem ser afetados pela espasticidade.

6. Técnicas de Relaxamento e Controle da Espasticidade

O controle da espasticidade também pode ser alcançado por meio de técnicas que envolvem o relaxamento muscular e o controle da resposta nervosa.

• Relaxamento muscular progressivo: Envolve a contração e o relaxamento sequenciais de grupos musculares para promover o relaxamento e reduzir a tensão muscular.
• Biofeedback: O uso de aparelhos de biofeedback permite ao paciente aprender a controlar a atividade muscular por meio de sinais visuais ou sonoros, ajudando a reduzir a espasticidade de forma consciente.

7. Abordagem Multidisciplinar e Acompanhamento Continuado

A abordagem da espasticidade deve ser realizada de forma multidisciplinar, envolvendo fisioterapeutas, médicos neurologistas, terapeutas ocupacionais e outros profissionais de saúde. O acompanhamento contínuo e o ajuste das técnicas de acordo com a evolução do paciente são fundamentais para o sucesso do tratamento.

• Plano de tratamento personalizado: Cada paciente com espasticidade apresenta um quadro único, e os fisioterapeutas devem personalizar os protocolos de tratamento conforme as necessidades específicas de cada paciente.
• Ajuste contínuo: O tratamento deve ser ajustado regularmente para garantir que o paciente esteja progredindo de forma eficaz, minimizando a espasticidade e maximizando a funcionalidade.

Considerações Finais

A espasticidade é um desafio significativo no tratamento de pacientes neurológicos, mas com a abordagem certa, a fisioterapia neurofuncional pode proporcionar alívio substancial, melhorando a mobilidade, reduzindo a rigidez muscular e, consequentemente, a qualidade de vida dos pacientes.

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