Fisioterapia da criança com doença grave
São crianças com restrição da mobilidade aquelas submetidas à analgossedação, com lesão aguda de coluna espinal e gravemente enfermas, impossibilitadas de serem mobilizadas em virtude da instabilidade hemodinâmica. A restrição da mobilidade e a concomitante diminuição do estresse (nos tecidos e nas articulações) relacionada com a falta de exercícios físicos acometem potencialmente cada órgão e sistema do corpo, com efeitos profundos nos sistemas cardiovascular e neuromuscular. Os efeitos mais importantes da restrição da mobilidade são aqueles nos sistemas cardiovascular e cardiopulmonar, com consequente alteração do transporte de oxigênio (O2).
O posicionamento e a mobilização da criança têm efeitos importantes em sua função cardiorrespiratória e cardiovascular, o que determina uma melhora na capacidade de transporte de O2 (Tabela 2). Os efeitos da mobilização e do posicionamento da criança podem melhorar as trocas gasosas e diminuir a fração inspirada de oxigênio (FiO2) e o suporte farmacológico e ventilatório (7). Nesse contexto, são funções do fisioterapeuta avaliar, prescrever e realizar tais intervenções para otimizar as trocas gasosas e o transporte de oxigênio (O2). Vale ressaltar que esse papel se distingue daquele feito com frequência pela enfermagem, visto que esta rotina de posicionamento e mobilização objetiva, principalmente, diminuir os efeitos adversos da imobilidade, que incluem as complicações pulmonares e alterações musculoesqueléticas.
Portanto, a restrição da mobilidade e suas consequências devem ser minimizadas. A mobilização e o posicionamento em pé devem ser maximizados para evitar as consequências negativas da imobilidade no leito, assim como o aumento do risco de morbidade associada a esses efeitos.
A mobilização (passiva, ativo-assistida, resistida) é utilizada pelos fisioterapeutas como por meio de diversos métodos para pacientes com uma ampla variedade de alterações, que incluem aqueles gravemente enfermos em UTI. Ela tem como objetivos melhorar a função respiratória (com otimização da relação ventilação/perfusão, aumento dos volumes pulmonares e melhora do clearance das vias respiratórias), diminuir os efeitos adversos da imobilidade e melhorar o nível de consciência, a independência funcional, o condicionamento cardiovascular e a condição psicológica
A fisioterapia para a criança gravemente doente com alterações funcionais difere daquela estabelecida para pacientes adultos, pois trata-se de uma combinação dos cuidados de uma criança normal associada à melhor estratégia de intervenção para a reabilitação. A proporção de crianças com condições crônicas e/ou alterações funcionais internadas em UTIP está em crescente aumento e, portanto, é esperado que a necessidade de reabilitação/fisioterapia também aumente. Existe claramente uma discrepância entre a necessidade e a possibilidade de cuidados de reabilitação/fisioterapia em crianças internadas em UTIP no mundo, especialmente nos países em desenvolvimento.
As morbidades relacionadas a Síndrome Pós-Alta Hospitalar afetam uma proporção significativa de crianças que recebem alta das UTIs. Melhorar a compreensão das morbidades físicas, neurocognitivas e psicológicas após uma doença grave na população pediátrica é imperativo para projetar intervenções para melhorar os resultados em curto, médio e longo prazo de pacientes que recebem alta da UCIP no intuito de melhorar a segurança dos cuidados à criança gravemente enferma e, consequentemente, contribuir para a diminuição das morbidades após a alta hospitalar, visando a melhora ou manutenção da qualidade de vida.