As cardiopatias estão entre os defeitos congênitos mais comuns ao nascimento e acometem de 8 a 10 crianças a cada 1.000 nascidos vivos. Estima-se que, anualmente, em todo o Brasil, haja o aparecimento de aproximadamente 28 mil novos casos de cardiopatias, para os quais são necessários, no mesmo período, um valor estimado de 23 mil procedimentos cirúrgicos para correção apenas de defeitos congênitos
A
fisioterapia é uma modalidade terapêutica relativamente recente dentro das unidades de terapia intensiva pediátrica e neonatal e que está em expansão, especialmente nos grandes centros. Segundo a portaria do Ministério da Saúde no 3.432, em vigor desde 12/8/1998, as unidades de terapia intensiva de hospitais com nível terciário devem contar com assistência fisioterapêutica em período integral, por diminuírem as complicações e o período de hospitalização, reduzindo, consequentemente, os custos hospitalares. Embora os objetivos da fisioterapia sejam semelhantes àqueles traçados para os adultos, a assistência fisioterapêutica em Pediatria / Neonatologia apresenta particularidades relacionadas às diferenças anatômicas e fisiológicas existentes nestes pacientes, em relação às demais faixas etárias
A fisioterapia está indicada com o objetivo de reduzir o risco de complicações pulmonares, consequentes de fatores como anestesia geral, incisão cirúrgica, CEC, tempo de isquemia, intensidade da manipulação cirúrgica e número de drenos torácicos, retenção de secreções pulmonares, atelectasias e pneumonias no período pré – operatório, bem como tratá-las no pós-operatório, pois contribui para a ventilação adequada e o sucesso da extubação .
No pré-operatório, é realizada a avaliação fisioterapêutica com o objetivo de identificar aqueles com risco aumentado de desenvolver complicações pulmonares, além de servir como parâmetro inicial de acompanhamento no pós-operatório. Avaliações dos volumes e capacidades pulmonares, força muscular respiratória, fatores de risco clínicos e/ou cirúrgicos são as medidas de eleição nesse período. (Fisioterapia Respiratória em Neonatologia e Pediatria).
Outras orientações de grande valia são a importância de se explicar à criança e a sua família ou acompanhantes o objetivo da fisioterapia no pós-operatório, a explicação e orientação das técnicas desobstrutivas (tosse), exercícios de expansão pulmonar (padrões ventilatórios seletivos ou inspirometria de incentivo), apoio abdominal e a mobilização precoce no leito. (Fisioterapia Respiratória em Neonatologia e Pediatria).
O suporte fisioterapêutico inicia-se na chegada da criança ao CTI. O profissional vai colaborar com a equipe para adequar o posicionamento do paciente no leito e garantir a devida locação de acessos vasculares, drenos e da cânula traqueal, sabido o risco de deslocamento desses durante o transporte do centro cirúrgico. Posteriormente, preconiza-se a realização de avaliação fisioterapêutica no POICC, que inclui: inspeção da expansibilidade da caixa torácica, ausculta pulmonar, análise da radiografia de tórax, interpretação da gasometria arterial associada à avaliação da gravidade do quadro clínico e de discussão com a equipe do CTI, verificação do suporte ventilatório, medida da saturação periférica de oxigênio (SpO2) e monitorização de outros sinais vitais
A função do sistema respiratório é indiscutivelmente afetada durante e após as cirurgias cardíacas, principalmente em função da dor. A alteração da mecânica ventilatória proveniente da incisão cirúrgica, situação encontrada pós esternotomia e da própria anátomo-fisiologia decorrente do procedimento, leva à diminuição da complacência pulmonar no POCC
O processo de inclusão da fisioterapia na fase pré-operatória tem ganhado espaço, embora a conferência da efetividade dessa atuação ainda necessite de investigações bem delineadas.