Revisão sistemática do Método Pilates no equilíbrio do idoso
Introdução
O aumento da população idosa em todo mundo, comprovado por estudos, tem colocado para os órgãos governamentais e para a sociedade desafios médicos e socioeconômicos próprio do envelhecimento populacional, sendo que este crescimento vem ocorrendo principalmente em países em desenvolvimento (Papaleo Netto, 2007; Newell; Shead; Sloane, 2012).
Carvalho Filho (2007) e Vilela et al. (2010), definem o envelhecimento como um fenômeno natural, dinâmico e progressivo comum a todos os seres, no qual ocorrem alterações morfológicas, funcionais e bioquímicas no organismo, tornando-o mais suscetíveis a fatores de riscos, porém não deve ser encarado como fragilidade, e sim como um mecanismo normal do organismo.
De acordo com Rosa et al. (2012) e Ribeiro et al (2014), as alterações multissistêmicas que ocorrem no envelhecimento interferem diretamente no equilíbrio do idoso afetando o sistema nervoso central em realizar o processamento dos sinais vestibulares, visuais e proprioceptivos responsáveis pela manutenção do equilíbrio corporal, bem como diminui a capacidade de modificações dos reflexos adaptativos. Qualquer falha no processo de manutenção do equilíbrio seja sensorial, vestibular, do SNC ou do aparelho locomotor, vai resultar em alto risco de quedas (Rodrigues et al, 2009).
A prevalência de queixas de equilíbrio na população acima de 65 anos chega a 85%, estando associada a várias etiologias e podendo se manifestar como desequilíbrio, desvio de marcha, náuseas, tonturas, vertigens e quedas freqüentes. Essas manifestações podem levar à redução da autonomia, por reduzirem as atividades de vida diária, trazendo sofrimento, instabilidade corporal, medo de cair e altos custos para o tratamento (Valentim et al, 2009).
Segundo Rosa et al (2012) e Tozim et al (2014),relatam que o Método Pilates (MP) é a arte do controle e movimento do corpo, onde quem pratica percebe mudanças em seu corpo em poucas semanas, através de seus exercícios trabalha o condicionamento físico e mental que desenvolve força, flexibilidade, resistência e controle motor do corpo, corrigindo a postura e realinhando a musculatura, desenvolvendo a estabilidade corporal necessária para uma vida mais saudável e longeva, o indivíduo redescobre seu próprio corpo com mais coordenação, equilíbrio e flexibilidade.
O Método Pilates pode ser considerado um exercício de fundamental importância como recurso fisioterapêutico minimizando os efeitos das anormalidades de tônus, mantendo uma ADM normal e impedindo deformidades, melhorando as funções respiratórias e motoras, além de restabelecer o equilíbrio através de exercícios desafiadores promovendo a conscientização corporal e melhorando a autoestima do idoso (Rocha e Hartmann, 2012).
Marés et al (2012) e Sinzato et al (2013), afirmam que os exercícios que compõem o método envolvem contrações isotônicas e, principalmente, isométricas, com ênfase no centro de força, que é composto pelos músculos abdominais, transverso abdominal, multífidos e músculos do assoalho pélvico que são responsáveis pela estabilização estática e dinâmica do corpo.
Devido à escassez de trabalhos publicados sobre o estudo dos efeitos do MP na disfunção do equilíbrio no idoso, este estudo reuniu em sua pesquisa trabalhos que foram publicados de 2005 a 2015, onde visa contribuir da melhor forma para os profissionais da área de saúde e proporcionar melhora na qualidade de vida dos idosos.
Considerando o exposto, o presente estudo teve como objetivo estudar o método Pilates na disfunção do equilíbrio em idosos.
Metodologia
Realizou-se um levantamento bibliográfico de caráter exploratório, as bases de dados utilizadas foram: Scielo, Medline, Lilacs, Pubmed, Cochrane, revistas cientificas e livros.
Foram considerados como critérios de inclusão os artigos publicados nos últimos 10 anos, que abordassem assuntos relacionados aos descritores e textos completos nos idiomas português e inglês. Foram excluídos os artigos que estavam associando o equilíbrio com doenças. Os descritores em Ciências da Saúde (DeCS) utilizados na busca foram: fisioterapia, equilíbrio postural, envelhecimento, physical therapy specialty, postural balance e aging.
Resultados e discussão
Existem poucos estudos disponíveis que possam identificar os efeitos do MP no equilíbrio do idoso. Porém os efeitos advindos da aplicação do MP encontrados na literatura indicam que o método influencia no equilíbrio do idoso, uma vez, que as alterações do equilíbrio que ocorre no processo de envelhecimento podem levar o idoso a quedas e lesões, assim os efeitos do MP podem melhorar o equilíbrio do idoso e conseqüentemente sua qualidade de vida.
Rosa et al (2012), e Rosa et al (2013), afirmaram que o MP é um método de condicionamento físico e mental que desenvolve força, flexibilidade, resistência e controle motor do corpo, proporcionando assim diversos benefícios à saúde tais como: incentivo a hábitos saudáveis, estimulando a concentração e o equilíbrio físico e mental.
Segundo Rodrigues et al (2009) e Irez et al (2011), em seus respectivos estudos, por meio do MP obtiveram melhora do equilíbrio estático e dinâmico e da estabilização postural, o qual atribuem ao fortalecimento muscular, controle e correção postural e promoção de estímulos proprioceptivos propiciando também melhora significativa no desempenho funcional. No entanto Bird et al (2012), discordam que o MP proporcione melhora no equilíbrio dos idosos, pois em seus estudos não obteve melhora no equilíbrio estático e dinâmico.
Rosa et al (2012) e Hyun et al (2014), relataram que os exercícios realizados no MP conseguem trabalhar de forma efetiva a musculatura mais profunda, onde irá melhorar significativamente o equilíbrio muscular, o realinhamento da postura, a concentração, a respiração, melhorando a mobilidade física do idoso, interferindo positivamente em sua forma de executar ações motoras e diminuindo conseqüentemente o número de quedas, afirmando ainda que os resultados ajudaram tanto no equilíbrio estático como dinâmico, aumentando a capacidade de equilíbrio estático através da ativação orgânica dos músculos profundos do tronco.
Para Rosa et al (2013), em seu estudo, no qual participaram 20 idosos, divididos em dois grupos: 10 sedentários (GS) e 10 praticantes de Pilates (GPP) verificou que houve melhora no desempenho na avaliação funcional, onde obteve bons resultados nos testes para velocidade da marcha e força de membros inferiores, porém no equilíbrio, não houve melhora entre os grupos estudados, isso se deve possivelmente ao numero de sessões que foram onze.
Já Pestana et al (2013), discordam com o autor supracitado apontando que o MP pode ser aplicados com a finalidade de potencializar a força muscular, repercutindo na marcha e contribuindo para a melhora do equilíbrio postural, influenciando positivamente sobre a mesma na população. Sendo assim, a terapia pelo exercício, quando aplicado no nível de atenção primária à saúde pode ser considerada uma excelente estratégia para evitar o declínio funcional, a perda de autonomia e a independência na população idosa.
Irez et al (2011), em seu estudo randomizado, onde participaram 60 idosos, divididos em dois grupos (controle e experimental), relataram que ao realizar os exercícios de Pilates designados dentro do programa de treinamento de 10 semanas, as melhorias foram vistas sobre todas as variáveis que buscava em seus estudos como a força muscular , flexibilidade e equilíbrio dinâmico, sendo significativamente maior após o programa, relata ainda que resultou numa diminuição do número de quedas nas idosas que participaram do estudo.
O fortalecimento muscular foi o beneficio mais citados nos artigos pesquisados, onde oito autores mencionaram como sendo o principal efeito obtido pelo MP.
Rodrigues et al (2009), e Rodrigues et al (2010), observaram que o trabalho de força oferece melhora da mobilidade física do idoso, assim o trabalho com exercícios resistidos no MP contribuiu no aprimoramento do equilíbrio estático em idosos, devido à estabilização postural que é alcançada pelo constante trabalho dos músculos posturais, especialmente os abdominais e paravertebrais que são o centro do corpo e, portanto, garantem a estabilidade postural.
Irez et al (2011), Appell et al (2012), e Bird et al (2012), em seus estudos relataram que os exercícios do MP fortalecem os músculos envolvidos no equilíbrio postural devido às resistências colocadas a ele, aumentando desta forma também a aptidão física no idoso.
Marés et al (2012), e Rosa et al (2012), concordam com os autores supracitados que os exercícios realizados no MP conseguem trabalhar efetivamente a musculatura mais profunda, melhorando o equilíbrio muscular, o realinhamento da postura, a concentração e a respiração através dos exercícios do MP, no qual contribui para uma utilização mais eficiente dos membros superiores e inferiores e, assim, um melhor equilíbrio e desempenho funcional em idosos.
Ainda sobre o fortalecimento muscular Mokhtaria, Nezakatalhossainib e Esfarjanic (2013), relataram que o exercício do MP contribuiu na melhoria do equilíbrio dinâmico dos idosos devido aos efeitos provenientes da força muscular, sendo uma ferramenta útil para ajudar as pessoas mais velhas reduzindo o índice de quedas e conseqüentemente, reduzir os custos de saúde. Pestana et al (2013), Hyun et al (2014), e Mesquita et al (2015), descreveram em seus respectivos estudos que o MP pode ser aplicados com a finalidade de potencializar a força muscular, principalmente os músculos abdominais, sendo importantes para uma boa postura reduzindo a inclinação pélvica anterior, comum nessa faixa etária, levando a melhora da marcha.
Segundo Rodrigues et al (2009), Rosa et al (2012), e Mesquita et al (2015), o MP também promove constante estímulos proprioceptivos que o indivíduo recebe ao respeitar princípios como concentração, precisão e controle, sendo associadas à manutenção do equilibro, o que pode justificar a melhora do equilíbrio em idosos, influenciando na consciência corporal, que pode repercutir na relação espaço-tempo e na habilidade de executar outra tarefa enquanto mantém o equilíbrio. Esses estímulos proprioceptivos junto com o fortalecimento muscular e o controle postural advindos do MP influenciam no equilíbrio do idoso.
De acordo com Rodrigues et al (2010), e Costa et al (2012), relataram em seus estudos, que os efeitos do método sobre a força e a mobilidade de músculos e articulações além de flexibilidade, equilíbrio e coordenação explicariam a melhora na autonomia funcional, permitindo supor que as idosas estudadas alcançaram melhor desempenho na realização das atividades da vida diária.
Rosa et al (2013), relataram que os resultados encontrados em relação ao ganho de força de membros inferiores, da velocidade da marcha permitem supor que o MP pode beneficiar num melhor desempenho funcional em idosos devido às vantagens que a técnica pode proporcionar para realizar as atividades básicas de vida diária, respeitando as habilidades individuais.
Sendo assim os efeitos produzidos pelo MP pode contribuir na redução dos riscos de quedas em idosos.
Conclusão
Em virtude dos fatos mencionados neste estudo, foi possível estudar e relatar os efeitos do MP na disfunção do equilíbrio em idosos. Efeitos como a força muscular, a propriocepção e autonomia funcional do idoso, onde os mesmos se encontram em declínio no decorrer do envelhecimento.
Sendo assim, os resultados que obtivemos nos permitiu afirmar que o MP pode ser considerado como recurso fisioterapêutico de grande valia na melhora do equilíbrio do idoso com o intuito de reduzir os fatores de risco. Os resultados incentivam a continuidade de mais estudos de campo sobre os efeitos do MP no idoso, objetivando a melhora do equilíbrio, assim como o aumento de sua independência funcional e qualidade de vida desta população.
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POR:
Suellen Catarina Pereira Parente*
Vicente Fidelix Ferreira Gomes Júnior**
Joelma Magalhães da Costa***