Eletroestimulação em Pacientes Críticos na UTI: Revisão de Literatura
No ambiente da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), o imobilismo é um problema frequente em pacientes ventilados mecanicamente, podendo favorecer ao aumento do tempo de internação hospitalar, bem como o aparecimento de fraqueza na musculatura respiratória e periférica, prejudicando assim as suas funções e a qualidade de vida.
A debilidade generalizada é uma complicação comum em pacientes internados na UTI, com uma incidência de aproximadamente 30% a 60% dos pacientes. Diferentes fatores podem contribuir essa condição, dentre eles destacamos a ventilação mecânica (VM) e a imobilidade prolongada que aumenta o índice de mortalidade, complicações e o tempo de internação interferindo na vida do paciente até anos depois de sua alta hospitalar (GOSSELINK, 2008).Deficiências motoras graves podem ser desenvolvidas pelo paciente crítico na UTI. Fontes de estimulação sensório-motora, implantação de técnicas para prevenção de complicações secundárias à imobilização, podem significar uma oportunidade única de interação do paciente com o meio ambiente (GOSSELINK, 2008; MARAMATITOM, 2006).
A fraqueza muscular é um dos problemas mais comuns nestes pacientes, sendo decorrente da perda de massa muscular (MARTIN,2005) de forma difusa e simétrica, acometendo a musculatura estriada esquelética apendicular e axial. Dessa forma, a fisioterapia apresenta-se como a especialidade mais adequada ao tratamento dessa disfunção entre os profissionais que atuam em UTI, pois dispõe de diversas técnicas, como a mobilização precoce do paciente crítico e a estimulação elétrica, entre outras (PINHEIRO, 2012).
A eletroestimulação poderá ser um caminho promissor para prevenir a perda de massa muscular, pois é reconhecido como um método clínico que induz o crescimento do músculo esquelético, além de aumentar a força e a capacidade de resistência dos pacientes, ainda, incapazes de realizar exercícios ativos (BAX et al, 2005).
Objetivos
O presente estudo teve como objetivo realizar uma revisão sistemática de literatura, para esclarecer os desfechos propiciados pela aplicação da eletroestimulação em pacientes críticos assistidos em UTI.
Além disso, comprovar a eficácia clínica da estimulação elétrica na prevenção de perda de massa muscular proveniente do imobilismo.Métodos
Foi realizada pesquisa de artigos referentes ao tema pretendido, utilizando 11 artigos para o estudo com bases de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Medical Literature Analysis and Retrieval Sistem Online (MedLine/PubMed) e Biblioteca Cochrane. Utilizando palavras chave como imobilismo, fisioterapia, eletroestimulação.
Resultados
Zanotti et al.(2003), compararam um protocolo de exercícios ativos apendiculares à eletroestimulação, em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica grave (DPOC), acamados e sob VM prolongada, e constataram que o grupo que recebeu a eletroestimulação conseguiu um aumento significativamente maior da força muscular quando comparado a participantes do grupo controle.
O estudo piloto realizado por Gruther et al.(2010), do tipo randomizado, controlado e duplo-cego, com população amostral de 46 pacientes, entre homens e mulheres, todos com idade superior a 19 anos e com doenças graves, foram incluídos no estudo para avaliar o efeito da eletroestimulação de forma: 1) precoce, com o objetivo de prevenir a perda de massa muscular; 2) tardia, visando a reversão da hipotrofia muscular de pacientes de longa permanência em UTI. Os grupos foram divididos em subgrupos de controle e intervenção. No grupo que recebeu a intervenção de forma precoce (em ambos os subgrupos) foi evidenciada perda significativa da espessura da camada muscular constatando que a eletroestimulação não preveniu a perda de massa muscular. Contudo, no grupo que recebeu eletroestimulação tardia, o subgrupo intervenção mostrou um aumento significante da massa muscular quando comparado aos sujeitos controles.
No entanto, no estudo randomizado realizado por Gerovasili et al (2009), o decréscimo foi significativamente menor no grupo submetido à intervenção, porém, o valor basal da espessura muscular foi maior no grupo controle quando comparado ao grupo intervenção, o que reduz a comparabilidade direta entre os grupos e pode explicar porque o grau de perda de massa muscular em valores absolutos foi significativamente maior no grupo controle. Essa perda ocorrem mais acentuadamente durantes as 3 primeiras semanas de internação/imobilização (GRUTHER et al, 2008).
No estudo de Clini & Ambrosini (2005) mostra que a principal vantagem da eletroestimulação em relação ao exercício físico convencional, é a diminuição de estresse ventilatório durante atividade muscular de forma passiva, já que é utilizado uma baixa freqüência, induzindo uma aumento na capacidade oxidativa muscular e que poderia representar uma forma de treinamento físico leve, podendo ser toleradas em pacientes com descondicionamento físico grave, por exemplo pacientes DPOC. Neste grupo de pacientes submetidos à ventilação mecânica, apresentando hipotonia muscular periférica e atrofia, a eletroestimulação proporcionou significativos resultados na melhora da força muscular e freqüência respiratória, levando a um tempo menor necessário para iniciar a transferência da cama para cadeira desses pacientes.
Discussão
O imobilismo, bem comum no paciente crítico, pode comprometer diversos órgãos e sistemas tais como: os sistemas musculoesquelético, gastrointestinal, urinário, cardiovascular, respiratório e cutâneo, proporcionando importante limitação com consequente perda de inervação e declínio na massa muscular. Estudos experimentais com indivíduos saudáveis demonstraram uma perda de 4% a 5% da força muscular periférica por semana durante um período de imobilidade (GOSSELINK et al, 2008).
Todavia, é importante considerar que existe uma diversidade entre os protocolos de eletroestimulação encontrados e os métodos de avaliação limita a comparação direta entre os estudos. Não há consenso, quanto à modulação adequada, de forma a promover contrações fortes com um mínimo de fadiga muscular. Contudo, o nível de evidência atualmente, disponível sobre os efeitos da eletroestimulação no paciente crítico em ambiente intensivo é baixo, dada a escassez de estudos publicados sobre o tema (FERREIRA et al, 2013).
Conclusão
Em suma, a aplicação da eletroestimulação, de acordo com que foi analisado, pode promover uma resposta benéfica por caracterizar uma melhora na força muscular periférica em pacientes críticos internados em unidade de terapia intensiva. Além disso, os resultados mais relevantes foram obtidos quando a técnica de eletroestimulação foi aplicada de forma tardia. Assim, é recomendado mais estudos acerca deste assunto devem ser realizados para obtenção de resultados que comprovem de forma fidedigna as vantagens do uso da eletroestimulação em pacientes críticos.
REFERÊNCIAS
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