Coluna e o esporte

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Ginástica, body jump, halterofilismo, musculação, corrida e uma série de esportes, inclusive os radicais, são o que a maioria das pessoas está praticando, seja por vício ou pelo próprio benefício que a prática esportiva pode trazer para a sua saúde. E a sua coluna, como vai? Na maioria das vezes, muito mal. O culto ao corpo ou o aperfeiçoamento de um determinado tipo de esporte pode causar danos a sua coluna.

A coluna se divide didaticamente em três regiões, cervical com sete vértebras, torácica com doze vértebras e lombar com cinco vértebras, sendo que a coluna cervical e a lombar são as que mais são lesadas em atividades esportivas. Cada região tem características anatômicas completamente diferentes das outras, assim como os sinais e sintomas das lesões nessas regiões. Outro aspecto importante é que cada vez mais pessoas com idade superior aos quarenta anos de idade praticam mais esporte do que há vinte anos atrás, e que os problemas degenerativos (desgastes) e osteoporose na coluna também contribuem em alguns tipos de lesões.

Distensão Cervical

Ela consiste por um estiramento simples ou ruptura completa que ocorre em tecidos moles de sustentação da coluna cervical como os tendões, ligamentos e músculos. A distensão pode ainda envolver discos intervertebrais, os chamados amortecedores, a cartilagem e até mesmo fratura de vértebra. Basicamente o mecanismo pode ser de hiperflexão ou hiperextensão da coluna cervical, explica o médico.

Esportes como o automobilismo, kart, body jump, rapel, raffting, hipismo e ginástica olímpica, nos quais, os atletas sofrem constantemente aceleração e desaceleração em alta velocidade e esportes mais radicais como esqui, skate, motocross e ciclismo, provocando o impacto direto da cabeça pode levar além das lesões, a fratura na coluna cervical.

O nível da ruptura ou lesão ocorre frequentemente em regiões mais móveis da coluna que são a quinta e sexta cervicais, sexta e sétima cervicais e a sétima vértebra cérvica e primeira torácica. Dependendo da gravidade da lesão, os sintomas podem variar de um leve torcicolo à paralisia de membros superiores, devido ao déficit neurológico por comprometimento da raiz nervosa cervical.

Um exemplo para entender o mecanismo da distensão cervical é o “chicote” que a pessoa recebe quando está sentada dentro do automóvel e recebe uma batida por trás e o tronco é subitamente jogado para frente e a inércia da cabeça hiperestende agudamente o pescoço que então recua para frente provocando as lesões. “Se o atleta em questão for mais velho, com doenças degenerativas na coluna, isto pode agravar as lesões.

Quando a direção da força é lateral ou ao mesmo tempo frontal e traseira com a cabeça rodada, a coluna fica menos flexível e a força é transmitida nas articulações podendo provocar fratura”.

O quadro clínico varia com a gravidade da lesão. Pode ser um leve torcicolo provocado pelo espasmo muscular ou até uma instabilidade grave por ruptura completa dos ligamentos e comprometimento da raiz nervosa levando a dormência, formigamento e até perda de força em membro superiores. Nestes casos, a dor pode ser irradiada na base da nuca, na área torácica confundindo com problemas cardio-pulmonares. O tratamento varia da simples imobilização e uso de analgésicos até o repouso em tração com medicação venosa para dor e relaxamento muscular.

Outros sintomas como embasamento da visão, diplopia (visão dupla), vertigem, náuseas, cefaléias podem estar presentes. Nestas situações, normalmente são feitos alguns exames como raios X, tomografia computadorizada e a ressonância magnética também ajudam no diagnóstico, informa.

Discos Cervicais

Outra consequência comum de agressão à coluna é a lesão dos discos cervicais. Eles são os chamados amortecedores situados entre as vértebras e próximos as raízes nervosas que na coluna cervical são relativamente mais fixas, do que no restante da coluna.

Quando estes mecanismos promovem a lesão do disco cervical, a hérnia (abaulamento) provocada é do tamanho de uma ervilha, porém suficiente para provocar compressão nervosa. 95% delas ocorre no intervalo da quarta até a sétima vértebra cervical e o mecanismo mais freqüente é uma compressão da cabeça para baixo, com uma hiperflexão, que por exemplo, ocorre quando se bate com a cabeça no teto do automóvel ou no fundo em mergulhos.

O tratamento também é conservador e é feito através do uso de colar cervical para imobilização, uso de analgésicos, antiinflamatórios não hormonais, relaxantes musculares, calor local e fisioterapia. O tratamento cirúrgico já é reservado quando persistem os sintomas de compressão de raiz, como dormência, formigamento, perda de força. Nestes casos, acontece a retirada do fragmento de disco que está mecanicamente comprimindo e concomitante fusão das vértebras no local da retirada do disco.

Fraturas

As fraturas cervicais são os casos onde as lesões são provocadas por alta velocidade e energia cinética. São considerados os mais graves, podendo levar a tetraplegia - imobilização definitiva de braços e pernas. O tratamento é a redução da fratura e descompressão do nervo, que pode ser feito com método de halo-colete ou até mesmo cirúrgico.

Coluna Lombar

É o outro segmento também bastante lesado na prática de vários esportes e, em especial, aqueles ligados ao peso, como halterofilismo, fisiculturismo e os com impacto axial repetitivo, como o vôlei, basquete e pára-quedismo que podem levar a fraturas por fadiga.

Eles ocorrem principalmente entre quarta e quinta vértebras lombares e a quinta lombar e a primeira vértebra sacral, levando as chamadas espondilolises e espondilolisteses (escorregamento vagaroso de uma vértebra sobre a outra). As lombalgias mais simples são provocadas por distensão na musculatura e ligamentos lombares, principalmente se o esforço é muito grande, e se o atleta não estiver devidamente condicionado e alongado. As hérnias de disco são mais comuns entre a quarta e quinta vértebra lombar e a quinta lombar e primeira sacral que podem ser agudas ou crônicas.

Elas acontecem como conseqüência de um esforço excessivo em flexão, rotação e carga, comuns em halterofilistas, arremessadores de disco e de martelo, boliche e handball.

Cada disco vertebral fica interposto entre duas vértebras, ele tem uma parte central semilíquida (núcleo pulposo) e duas placas cartilaginosas que separam os núcleos dos corpos vertebrais. Ele serve como uma articulação que fornece mobilidade à coluna e age como colchão ou absorvedor de choques.

Com a sobrecarga o núcleo pulposo é forçado posteriormente para o canal medular, em direção a raiz nervosa comprimindo-a, levando a sinais neurológicos em um ou os dois membros inferiores, como a dor, dormência, formigamento e perda de força, com sensação de “choque” no membro afetado. O diagnóstico é feito através do exame clínico, raios X simples, tomografia computadorizada e ressonância magnética.

As fraturas que ocorrem na coluna lombar são associadas à alta energia cinética, como a queda de altura, quedas assentadas, principalmente no atleta mais velho com o comprometimento degenerativo e de osteoporose da coluna.

O tratamento das espondilolise e espondilolistese pode ser conservador ou cirúrgico, mas a interrupção temporária do esporte é necessária. As lombalgias simples respondem ao tratamento com analgésico, antiinflamatório, relaxante muscular, fisioterapia e em alguns casos cinta abdominal. As hérnias de disco respondem na grande maioria com tratamento conservador que seria um repouso maior, as medicações acima descritas e fisioterapia.

A manipulação da coluna deve ser indicada com critério, e executada por profissional habilitado. Nestas situações, normalmente podem ser usadas injeções de substâncias como a papaína (quimio-nucleólise) que “dissolve” a hérnia (ainda em fase de estudos).

A cirurgia é reservada para os casos em que os tratamentos não obtiveram sucesso e o retorno ao esporte, principalmente se profissional, deve ser questionado, mudando-se às vezes o tipo do esporte. O tratamento das fraturas quando não acomete nervos pode ser conservador se não levou a uma instabilidade da coluna, se esta ocorreu, faz-se osteosíntese entre os corpos vertebrais através da colocação de placas e parafusos.

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