Fraturas por estresse: sinal de quebra dos limites



Quebrar os próprios limites, destroçar todos os recordes e romper as barreiras do corpo podem até ser o sonho de muitos esportistas, porém, à custa deste desempenho superlativo está embutido o risco de quebrar os ossos do corpo. A chamada fratura por estresse, que muitas vezes acontece durante os treinos de "autosuperação", costuma ser a resposta que o corpo dá ao excesso de sobrecarga sobre os músculos e estruturas que absorvem o impacto ao longo do tempo. Fatigados pela falta de repouso necessária à recuperação do corpo, estas estruturas transferem a sobrecarga do estresse para o osso, o que pode provocar a fratura por estresse.

Anatomicamente, estas fraturas correspondem a fissuras microscópicas dos ossos, causadas por uma soma de quantidade de impacto excessiva e de modo repetitivo. Caso os limites de músculo, tendões e ligamentos sejam ultrapassados, a estrutura óssea assume a absorção da sobrecarga e, neste momento, formam-se microfraturas.

Os sintomas da fratura por estresse costumam ser dor em um local específico e sensação de fraqueza na região, principalmente após a prática esportiva. Durante o repouso, a dor desaparece, mas reaparece e se intensifica a cada treino. Pode se originar de um aumento muito rápido no tempo, intensidade ou volume do treino, ou mesmo de uma mudança no tipo de calçado usado e até no piso onde se pratica a atividade.

Em alguns casos, pode ocorrer inchaço local. Corredores, saltadores, militares e todos os que demandam grande esforço dos membros inferiores são os mais suscetíveis ao desenvolvimento de fraturas por estresse. Os ossos da perna (tíbia) e do pé (metatarsos) são os mais acometidos, mas o quadril, o fêmur e a coluna lombar também são áreas potencialmente problemáticas, apesar de mais raramente.

Estudos demonstram que as fraturas por estresse são mais comuns em mulheres, o que é atribuído ao que se chama de "a tríade da atleta feminina", que consiste em desordem alimentar (bulimia ou anorexia), amenorreia (ciclo menstrual ausente) e osteoporose. O diagnóstico dos sintomas é feito com base no exame clínico e em exames por imagem, preferencialmente a ressonância magnética ou cintilografia óssea, que detecta a fase inicial da fratura em até 95% dos casos em menos de 24h da lesão.

Uma vez diagnosticada a fratura por estresse, inicia-se o tratamento. O ideal é que se faça uma pausa na atividade que desencadeou a fratura por um período de seis a oito semanas. Atividades que não causam impacto ou dor ficam liberadas, bem como as exercidas na água e exercícios de fortalecimento e alongamento. Indica-se também o uso de calçados adequados, ingestão de cálcio e vitamina D (dependendo do caso). No entanto, para tratar fraturas mais graves, uma cirurgia pode ser necessária.

No final das contas, não adianta estressar com a interrupção das atividades físicas. A fratura por estresse é causada pela quebra dos limites do corpo ao longo do tempo. E será este, por ironia do destino, o melhor remédio que o corpo vai pedir para se recuperar da lesão: o tempo.

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