Anatomia e biomecânica postural: revisão de literatura
INTRODUÇÃO
Entender a anatomia e biomecânica do corpo é essencial a qualquer profissional da saúde. Nos aspectos anatômicos, conhecer os mínimos detalhes proporciona ao profissional um diferencial num mercado de trabalho cada vez mais concorrido, e nos aspectos biomecânicos poder proporcionar um melhor resultado de tratamento num menor tempo. Portanto, conhecer mais sobre os aspectos anatômicos e biomecânicos do corpo, a fim de aperfeiçoar os aspectos teórico para complementar os aspectos práticos.
DESENVOLVIMENTO TEÓRICO
Netter (2003) diz que “a coluna vertebral consiste em cinco regiões: cervical com sete vértebras, torácica com doze, lombar com cinco, sacra com cinco vértebras fusionadas e coccígea com quatro vértebras.”
Entre as vértebras, segundo O’sullivan (2000) estão os “discos intervertebrais desde do axis até o sacro que oferece um suporte elástico . As vértebras aumentam de tamanho da cervical para a lombar e diminuem da região sacra para a região coccígea.”
Sob um ponto de vista biomecânico, a coluna vertebral pode ser considerada uma viga dinâmica, suportando cargas de compressão, torção, cisalhamento longitudinal e transverso. (O’SULLIVAN, 2000).
Para manutenção dessa viga em posição de equilíbrio, um conjunto sinérgico e antagônico de atividade muscular determina as curvas de adaptação no sentido antero-posterior, a lordose lombar, em relação as cargas oriundas dos membros inferiores.(LIEBENSON, 2000).
Na coluna torácica, segundo Richardson (1999) há doze pares de costelas ligadas cada uma a uma vértebra. As costelas são ossos chatos, resistentes e ao mesmo tempo elásticos, que se direcionam para a frente do peito, onde a maioria deles liga-se ao esterno. Os dois últimos pares, por não se ligarem ao esterno são chamadas de costelas flutuantes.
As articulaçãos intercorpovertebral são articulações cartilaginosas secundárias (sínfises) para suportar o peso do corpo. As superfícies articulares das vértebras, recobertas por cartilagem, são conectadas por um disco intervertebral fibrocartilaginoso e por ligamentos. (WHITING, 2000).
Discos intervertebrais proporcionam fixação mais forte entre os corpos das vértebras. Os corpos vertebrais são unidos também por ligamentos longitudinais. Na região torácica os discos são mais delgados enquanto nas regiões cervical e lombar são mais espessos na frente. Esse espessamento tem relação com a curvatura de cada região. (RICARD,2001)
O ligamento longitudinal anterior é uma faixa fibrosa larga e forte que recobre as faces anteriores dos corpos vertebrais e discos intervertebrais. É mais espesso em nível dos discos intervertebrais e vai de C1 até o sacro. Mantém a estabilidade das articulações intercorpovertebrais e evita a hiperextensão da coluna vertebral. (NETTER, 2003).
O ligamento longitudinal posterior é uma faixa mais estreita e mais fraca que o ligamento longitudinal anterior. Está na face posterior dos corpos vertebrais, dentro do canal vertebral. É mais largo nas regiões torácica e lombar. Fixa-se aos discos intervertebrais e às bordas posteriores dos corpos vertebrais estendendo-se de C2 até o sacro. Evita a hiperflexão da coluna vertebral e a protrusão posterior do núcleo pulposo do disco. (O’SULLIVAN, 2000).
Os músculos superficiais do dorso (trapézio e grande dorsal) conectam os membros superiores ao tronco e estão relacionados com os movimentos desses membros.
Segundo Whiting (2000) o trapézio tem sua origem no terço medial da linha nuca, no túber occiptal e processos espinhosos de C7 a T12., e se insere no terço lateral da clavícula, acrômio e espinha da escápula. Tem como função elevar, retrair e rodar a escápula. As fibras superiores elevam, as médias retraem e as inferiores deprimem a escápula. Roda a escápula.
Ainda segundo o mesmo autor, o grande dorsal por sua vez tem sua origem nos processos espinhosos de T6 a T12, crista ilíaca e 3 a 4 costelas inferiores e tem sua Inserção no assoalho do sulco intertubercular do úmero. Como função, estende, aduz e roda medialmente o úmero; levanta o corpo durante a escalada
O Músculo Levantador da Escápula, origina-se nos tubérculos posteriores dos processos transversos das vértebras C1 a C4 e se insere na parte superior da borda medial da escápula. Tem como função elevar a escápula e inclinar a cavidade glenóide para baixo através da rotação da escápula. (NETTER, 2003).
Os Rombóides dividem-se em dois: O maior se origina nos processos espinhosos de T2 a T5 enquanto o menor se origina ligamento da nuca e processos espinhosos de C7 e T1 - é superior ao maior e ambos se inserem na borda medial da escápula a partir do nível da espinha até o ângulo inferior na borda medial Músculos Rombóides Maior e Menor. (O’SULLIVAN, 2000).
Os músculos extrínsecos são compostos pelos músculos superficiais e intermediários do dorso.Os músculos intermediários do dorso (serrátil posterior e levantadores das costelas) são os músculos respiratórios superficiais. (WHITING,2000).
Existem dois músculos serráteis posteriores. Um superior que elevas as quatro costelas superiores e os inferior que abaixa as costelas inferiores evitando que sejam puxadas pelo diafragma. Os músculos levantadores das costelas têm forma de leque e são em número de doze. Elevam as costelas. (NETTER, 2003).
Os músculos intrínsecos são os músculos profundos do dorso. São divididos em três camadas: superficial, intermédia e profunda. Camada Superficial de Músculos Intrínsecos ou Profundos do Dorso. (O’SULLIVAN, 2000).
O Músculo Esplênio do Pescoço e da Cabeça origina-se na metade inferior do ligamento da nuca e processos espinhosos de T1 a T6 e insere-se no esplênio da cabeça: face lateral do processo mastóide. Esplênio do pescoço: tubérculos posteriores dos proc. transversos de C1 a C4. Função: Isoladamente: fletem e rodam a cabeça para o mesmo lado. Em conjunto: estendem a cabeça e o pescoço. (NETTER, 2003).
Camada Intermédia de Músculos Intrínsecos ou Profundos do Dorso - M. Eretor da Espinha Músculo Iliocostal (Porção lateral do m. eretor da espinha): Divisões: parte lombar; parte torácica; parte cervical Origem: Origem comum - parte posterior da crista ilíaca. (WHITING,2000).
Insere-se nos ângulos das costelas. Tem como função unilateral, Fletir lateralmente a cabeça ou a coluna e bilateralmente estendem a cabeça e parte ou toda a coluna. (NETTER, 2003).
Músculo Longuíssimo (Porção intermédia do m. eretor da espinha). Divisões: torácico; do pescoço; da cabeça. Origem: Origem comum. Inserção: Processos transversos das vértebras torácicas e cervicais além do processo mastóide. Função: Unilateral: Flete lateralmente a cabeça ou a coluna. Bilateral: estendem a cabeça e parte ou toda a coluna.
Músculo Espinhal (Porção medial do m. eretor da espinha): Divisões: do tórax; do pescoço; da cabeça Origem: Origem comum. Inserção: Processos espinhosos da região lombar superior e torácica inferior. Função: Unilateral: Flete lateralmente a cabeça ou a coluna. Bilateral: estendem a cabeça e parte ou toda a coluna. (NETTER, 2003).
Camada Profunda de Músculos Intrínsecos ou profundos do Dorso. Músculo Semi-EspinhalDivisões: do tórax; do pescoço; da cabeça.Origem: Processos trans-versos de T1 a T6. Inserção: Metade medial da área entre as linhas nucais superior e inferior do osso occipital. Função: Bilateralmente: estendem as regiões cervical e torácica da coluna. Unilateralmente rodam essas regiões para o lado oposto.
Músculo Multífido tem sua origem nos arcos vertebrais e se inserem nos processos transversos, tem como função bilateralmente estender o tronco e estabilizam a coluna, e unilateralmente fletem o tronco lateralmente rodando-o para o lado oposto. (NETTER, 2003).
A coluna lombar é composta por cinco vértebras (L1, L2, L3, L4 e L5) sendo mais volumosas do que as outras vértebras, apresentando corpo reniforme (parecida com a forma de um rim), processos espinhosos curtos e quadriláteros no mesmo plano horizontal dos corpos vertebrais, não possuem fóveas costais e forame transverso e suas facetas articulares encontram-se no plano ântero-posterior (DANGELO & FATTINI, 2005).
A coluna vertebral em um embrião tem formato de “C” e após o nascimento à medida que o bebê se desenvolve, as suas curvaturas fisiológicas são adquiridas, sendo classificada a curvatura lombar segundo RASCH (1991), como um segmento secundário (RUBINSTEN, ANO).
A coluna lombar em relação às curvaturas torácica e sacral é extremamente móvel perdendo apenas para a cervical que possui maior mobilidade, estando em desvantagem por assumir maior sustentação do peso do corpo e contribuindo para a manutenção da postura ereta, sofrendo assim com toda a sobrecarga imposta sobre suas vértebras (RUBINSTEIN).
Considerando as amplitudes globais da flexão-extensão da coluna lombar que acontecem no plano sagital, a flexão (FL) é de 60° e a extensão (EL) é de 35°; sendo para o conjunto da coluna dorsolombar, a flexão (FDL) é de 105° e a extensão (EDL) é de 60°. A inflexão lateral (inclinação) da coluna lombar é de 20° e se realiza no plano frontal. A rotação axial é um movimento de amplitude muito escassa, sendo apenas 5° (KAPANDJI,2000).
A coluna lombar encontra-se três vezes mais suscetível a apresentar lesões do que a coluna torácica, isso ocorre devido à debilidade de força das estruturas e as cargas ou forças exercidas durante tarefas esportivas e/ou recreacionais (RASCH, 1991; MARCHAND, 2002).
Neste segmento ainda pode ocorrer mudanças na sua lordose fisiológica devido à descompensações musculares, posturas antálgicas, entre outras, que podem causar uma hiperlordose ou uma retificação desta curvatura, sendo a última facilitadora de hérnia discal por sobrecarga mecânica devido ao aumento do espaço intervertebral posterior (FIGUEIRÓ, 1993; MARCHAND, 2002).
Os problemas lombares acometem com maior frequência indivíduos sedentários que possuem uma região lombar fraca, e indivíduos que desempenham atividades pesadas exercendo uma carga excessiva sobre a coluna vertebral. Devido alguma alteração nos elementos estruturais da coluna lombossacra são mais comuns a lombalgia (dor na região lombar) ou a lombociatalgia (dor lombar que se propaga ao longo do trajeto do nervo ciático por processo inflamatório, decorrente ou não de uma hérnia discal lombar) que podem ter como causas os fatores posturais, traumáticos e degenerativos (PRESS & YOUNG, 1997; FIGUEIRÓ, 1993; MARCHAND,2002).
Muitas dores lombares são resultantes de espasmos musculares, sendo agravadas por compressão de nervos espinhais ou alterações dos discos intervertebrais, além de fraqueza dos músculos abdominais e eretores da coluna e retração dos músculos posteriores da coxa (RASCH, 1991; KRAEMER & FLECK, 2001; MARCHAND,2002).
A articulação do quadril compreende a sustentação do peso corporal e a locomoção dos membros inferiores , desempenhando movimentos de flexão, extensão , abdução, adução, rotação longitudinal e circundação, variando sua amplitude quanto ao movimento ativo e passivo. (KAPANDJI,2000)
A articulação do joelho envolve três ossos: o fêmur, a tíbia e a patela. Essas três estruturas ósseas formam duas articulações: a fêmuro-patelar e a tíbio-femoral, que funcionalmente não podem ser sempre consideradas separadas, já que existem entre elas uma relação mecânica.
Apesar de ter um grau de liberdade principal (flexão-extensão), utiliza ainda a rotação sobre o eixo longitudinal da perna de uma forma acessória, pois só aparece quando o joelho está flexionado e portanto mais móvel, o que requer estabilização especial da potente cápsula, ligamentos e músculos que cercam esta articulação. Por outro lado, quando estendido, fica estável devido ao alinhamento vertical, à congruência das superfícies articulares e ao efeito gravitacional sobre o compartimento (HAMILL e KNUTZEN,1999; KAPANDJI, 2000).
A articulação é rodeada por músculos, ligamentos, meniscos e cápsula articular, que agem em conjunto para dar harmonia aos movimentos, que são de flexão e extensão, com pouca rotação. Sua função está relacionada à sua atividade muscular integrada e às suas estruturas ligamentosas restritivas e precisas.
Do ponto de vista mecânico, a articulação do joelho é um caso surpreendente, visto que é capaz de resolver estas contradições biomecânicas e anatômicas, graças a dispositivos mecânicos extremamente sofisticados. Contudo, como suas superfícies possuem um encaixe frouxo, condição necessária para uma boa mobilidade, está mais sujeita a algumas lesões (KAPANDJI, 2000).
O fêmur distal, a tíbia proximal e a patela formam a articulação do joelho. Esta é dividida em três compartimentos: tibiofemoral medial, tibiofemoral lateral e patelofemoral anterior. As duas primeiras são os locais onde os côndilos femorais medial e lateral fazem contato, através da cartilagem interposta, com a face articular superior da tíbia. Os arredondados côndilos femorais são proeminências assimétricas do fêmur distal que se projetam, levemente, na parte anterior e marcadamente na parte posterior da diáfise do osso. As superfícies articulares vistas lateralmente, estão encurvadas excêntricamente com maior raio de curvatura anterior do que posterior. (RASCH e COLS,1991)
O côndilo lateral, é mais compactamente curvado, achatado, com maior área de superfície, proeminente anteriormente, fica alinhado com o fêmur e mantém a patela no lugar. O côndilo medial projeta-se mais longitudinal e medialmente, sendo mais longo antero posteriormente, angula-se para fora do fêmur e fica alinhado com a tíbia. Anteriormente, a confluência dos côndilos forma a tróclea, para que haja articulação com a patela. (HAMILL e KNUTZEN, 1999)
Já, a superfície articular para a patela é maior e se projeta mais anteriormente sobre o côndilo lateral do que sobre o medial, o que gera proteção contra subluxações patelares laterais. Os côndilos repousam sobre o platô tibial (superfície medial e lateral separada por uma saliência óssea). ( SILISKI e cols, 2002).
Existem 4 grandes ligamentos no joelho: (LCA) - Ligamento Cruzado Anterior, (LCP) - Ligamento Cruzado Posterior, (LCM) - Ligamento Colateral Medial, (LCL) - Ligamento Colateral Lateral.
Dois meniscos fibrocartilaginosos ou fibrocartilagens semilunares separados localizam-se entre a tíbia e o fêmur. O menisco lateral tem forma oval com inserções nos cornos anterior e posterior pelos ligamentos coronários. Também recebem inserções do quadríceps femoral na parte anterior e do músculo poplíteo e ligamento cruzado posterior atrás. O menisco lateral ocupa uma porcentagem mais larga da área do compartimento lateral e forma um anel quase completo com formato de O, enquanto o menisco medial se parece mais com uma meia lua e tem forma de C, ocupando menor área no compartimento medial. Por sua vez o menisco lateral é mais móvel, capaz de mover-se quase o dobro da distância que o menisco medial no sentido ântero-posterior (HAMILL e KNUTZEN, 1999; KAPANDJI, 2000).
As estruturas capsulares, são espessamentos localizados entre os principais ligamentos e a porção posterior do joelho, somam-se ao controle rotacional da articulação. A cápsula é uma estrutura grande , reforçada por numerosos ligamentos e músculos, incluindo o LCM, LCA e LCP e o complexo arqueado. Na frente, a cápsula forma uma grande bolsa que oferece uma área patelar ampla e é preenchida com tecido adiposo infrapatelar e a bolsa infra patelar. Este tecido adiposo serve como coxim no compartimento anterior do joelho. A cápsula é revestida com a maior menbrana sinovial do corpo, e é formada por três bolsas separadas. (HAMILL e KNUTZEN, 1999)
Diferentemente das outras articulações, a cápsula não forma uma estrutura envolvente completa no joelho, pois esses poucos ligamentos capsulares verdadeiros que conectam os ossos são auxiliados por tecidos tendíneos dos músculos associados à articulação. Em 20 à 60% da população, uma dobra permanente chamada “ prega” permanece, estando localizada normalmente medial e superior à patela. Tem consistência macia e complacente, ultrapassando o côndilo femoral em flexão e extensão. Existem também, mais de 20 bolsas localizadas dentro e ao redor do joelho para reduzir o atrito entre músculo, tendão e osso (RASCH e cols., 1991).
A função do mecanismo da articulação patelofemoral é influenciada vigorosamente por estabilizadores tanto dinâmicos (estruturas contráteis) quanto estáticos (estruturas não contráteis) da articulação. Essa estabilidade baseia-se na interação entre a geometria óssea, as contenções ligamentares e retinaculares e os músculos. Um estabilizador dinâmico, o músculo quadríceps femoral, é constituído por quatro músculos inervado todos pelo nervo femoral. Biomecanicamente, o movimento da articulação do joelho é mensurável ao redor dos três eixos. A amplitude de movimento da extensão completa (0°) à flexão completa é de aproximadamente 140° . O movimento do joelho no plano transversal, acompanha tipicamente a flexão e extensão e é referido como rotação tibial medial e lateral. Nenhuma rotação é permitida quando o joelho está completamente estendido; contudo, até 45° de rotação lateral e 30° de rotação medial são possíveis quando o joelho está fletido até 90°. Na extensão completa, a rotação é restrita pela arquitetura óssea da articulação, enquanto além de 90° de flexão o movimento é limitado pelos tecidos moles esticados ao redor da articulação (RASCH e cols., 1991).
A articulação do tornozelo, ou tíbio-tarsiana, é muito bem encaixada, possui só um grau de liberdade que permite os movimentos da perna em relação ao pé no plano sagital. É muito importante na transmissão de força do corpo e durante a sustentação de peso e ou outras cargas, sendo indispensável para a marcha.(GRABINER,1991; KAPANDJI, 2001)
Essa articulação inclui as articulações tibiofibular distal, tibiotalar e fibulotalar. A maior parte da movimentação do tornozelo acontece na articulação tibiotalar, onde a superfície convexa do talo superior se articula com a superfície côncava da tíbia distal, como uma dobradiça.(HALL,2005)
Todas as três articulações estão envoltas em uma cápsula articular onde os principais ligamentos que sustentam a articulação estão, os ligamentos talofibulares anterior e posterior e o ligamento calcaneofibular reforçam lateralmente a cápsula articular. O ligamento deltóide (medialmente) contribui para a estabilidade articular.(GRABINER,1991; HALL,2005)
Além dos ligamentos tíbio-fibulares, os ossos da perna estão unidos pelo ligamento interósseo, inserido nas faces externa da tíbia e interna da fíbula.(KAPANDJI,2001)
A articulação tíbio-tarsiana é composta por dois sistemas ligamentares principais, os ligamentos laterais externo e interno, e por dois sistemas acessórios, os ligamentos anterior e posterior. O ligamento lateral externo (LLE) é constituído por três fascículos, os fascículos anterior, médio e posterior, sendo que dois deles se dirigem para o astrágalo e o outro para o calcâneo. (KAPANDJI,2001)
O ligamento lateral interno (LLI) é composto por dois planos, um superficial e outro profundo. No plano profundo, há formação de dois fascículos astrágalo-tibiais, um anterior e outro posterior. O plano superficial é formado pelo ligamento deltóide, assim como o fascículo médio do LLE, ele não se insere no astrágalo.(KAPANDJI,2001)
O eixo de rotação do tornozelo está compreendido no plano frontal permitindo os movimentos de flexão e extensão do pé no plano sagital, com um eixo de rotação móvel durante a fase de apoio da marcha. O movimento de flexão do tornozelo aproxima o dorso do pé à face anterior da perna, recebendo o nome de dorsiflexão ou flexão dorsal, que permite uma amplitude de 20 a 30°. A extensão dessa articulação afasta o dorso do pé da face anterior da perna, enquanto o pé aponta para baixo recebendo a denominação de flexão plantar, este movimento possui maior amplitude que a flexão, 30 a 50°, sendo que em uma flexão extrema nas articulações do tarso, podem aumentar em alguns graus.(HALL,2005; KAPANDJI,2001)
Os principais dorso flexores do pé são os músculos tibial anterior, fibular terceiro e extensor longo dos dedos, o extensor longo do hálux auxilia na dorsiflexão.(HALL,2005)
Os principais músculos flexores plantares são o gastrocnêmio (biarticular) e o sóleo, além dos músculos tibial posterior, os fibulares longo e curto, o plantar, o flexor longo do hálux e o flexor longo dos dedos que auxiliam na flexão plantar.(HALL,2005)
A flexão e a extensão estão limitados por fatores ósseos, cápsulo-ligamentares e fatores musculares. Na flexão, os fatores cápsulo-ligamentares limitam quando a parte posterior da cápsula e os fascículos posteriors dos ligamentos laterais se contraem. No entanto, na extensão ocorre o inverso, a parte anterior da cápsula e os fascículos anteriores dos ligamentos laterais se contraem.(KAPANDJI,2001).
O pé é composto por 26 ossos, onde sete compõe os ossos do tarso (tálus, calcâneo, navicular, cubóide, e cuneiformes medial, intermédio e lateral); cinco ossos do metatarso e 14 falanges ( semelhante as da mão, há três em cada um dos dedos, com exceção do hálux, que tem duas); compondo 33 articulações complexas que unem os ossos do tarso entre si e com os do metatarso.(GRABINER,1991; KAPANDJI,2001)
As articulações dos ossos do pé formam três arcos estruturais, os quais, dois longitudinais (medial e lateral) e um transverso, associados a um complexo sistema ligamentar e alguns músculos, contribuindo para a força, mobilidade, elasticidade e estabilidade do pé. Os arcos longitudinais medial e lateral se estendem desde o calcâneo até os metatarsos e os ossos do tarso e o arco transverso é formado pelas bases dos metatarsos.(GRABINER,1991; HALL,2005)
Durante a sustentação de peso e outros tipos de carga, os arcos se deformam absorvendo o choque, dissipando a energia mecânica antes que ela seja transferida através da articulação do tornozelo para a perna, sendo armazenada essa energia nos tendões, nos ligamentos e na fáscia plantar quando distendidos. Também pode haver um acúmulo adicional de energia nos músculos gastrocnêmio e sóleo, quando desenvolvem uma tensão excêntrica. Essa energia armazenada nessas estruturas elásticas é liberada durante a fase de impulsão gerando uma força de impulsão e contribuindo para a redução do custo em energia metabólica durante a deambulação ou em uma corrida.(GRABINER,1991; HALL,2005)
Durante a deambulação e a corrida, no pé e no tornozelo há uma combinação de movimentos formando uma sequência cíclica. Quando o calcanhar entra em contato com o solo, há um certo grau de inversão na porção posterior do pé. No entanto, quando o pé desliza à frente e o antepé entra em contato com o solo, há uma flexão plantar. A combinação dos movimentos de inversão, flexão plantar e adução do pé caracterizando uma supinação. Na fase de apoio médio há uma tendência para a eversão e abdução do pé quando este faz uma dorsiflexão para que este sustente o peso do corpo. Assim caracterizando uma pronação, na qual esta reduz a força de reação do solo sustentada durante a marcha, aumentando o intervalo de tempo em que a força é sustentada.(HALL, 2005).
A arquitetura do pé contribui para a distribuição de sobrecargas, de forma que a carga é distribuída uniformemente sobre o pé durante a sustentação de peso normal, assim cerca de 50% do peso corporal se distribuem através da
A articulação subtalar para o calcâneo e os 50% restantes são transmitidos aos metatarsais. O metatarsal do hálux (primeiro metatarso), no pé normal, sustenta o dobro da carga dos outros metatarsais.(GRABINER,1991; HALL,2005)
No pé plano, a carga tende a ser reduzida sobre o antepé, enquanto no pé cavo a carga imposta ao antepé é aumentada significativamente.(HALL,2005)
A articulação subtalar está localizada entre a face inferior do tálus, onde as facetas anterior e posterior do talo se articulam com a superfície superior do calcâneo, unidos por quatro ligamentos talo-calcâneos. Possui três eixos de rotação e permite dois movimentos, independentes da articulação do tornozelo. Esses movimentos são o de inversão do pé, que permite um grau de flexão plantar e adução (rotação medial) e o de eversão do pé, quando a planta do pé é virada lateralmente, onde ocorre uma dorsiflexão e abdução (rotação lateral). (GRABINER,1991; KAPANDJI,2001)
A articulação mediotársica (ou transversa do tarso) é a junção entre as articulações talonavicular (triaxial) e cacaneocubóidea (biaxial), que permitem movimentos da parte anterior do pé em relação à parte posterior. São dois tipos de movimentos, o de inversão e o de eversão, através de dois eixos.(GRABINER,1991)
MOVIMENTOS DE TOTAÇÃO LONGITUDINAL E DE LATERALIDADE DO PÉ
Além dos movimentos de flexão e extensão realizados na articulação tíbio-tarsiana, o pé realiza outros movimentos ao redor do eixo vertical da perna , como os movimentos de adução e abdução; e no seu eixo longitudinal e vertical, sendo os movimentos de supinação e pronação ao redor do eixo longitudinal.( KAPANDJI, 2001)
A adução ocorre quando a ponta do pé direciona-se para dentro, aproximando-se do plano de simetria do corpo, ocorrendo juntamente de uma supinação e uma ligeira extensão caracterizando uma inversão, que resulta na rotação medial da sola do pé na direção da linha média do corpo. Os principais músculos envolvidos nessa ação são os tibiais anterior e posterior. (HALL,2005; KAPANDJI,2001)
Esses movimentos de rotação do pé nas direções medial e lateral ocorrem na articulação subtalar, tendo uma amplitude total de abdução-adução de 35 a 45°.(HALL,2005; KAPANDJI,2001)
Na abdução a ponta do pé se dirige para fora se afastando do plano de simetria. Trata-se da posição de eversão do pé, acompanhada de uma pronação e da flexão, caracterizada pela rotação lateral da sola do pé. Os músculos responsáveis por esse movimento são os fibulares longo e curto, além de receberem a ajuda do fibular terceiro. (HALL,2005;KAPANDJI,2001)
Ao redor do eixo longitudinal ocorre os movimentos de supinação (combinação de flexão plantar, inversão e adução) e o de pronação (combinação de dorsiflexão, eversão e abdução). A amplitude da supinação é de 52° e é maior do que a da pronação 25 a 30°.(HALL,2005; KAPANDJI,2001)
Os movimentos de inversão e de eversão do pé estão limitados por dois tipos de resistências, os ressaltos ósseos e as cadeias ligamentares da parte posterior do pé. No entanto, o movimento de inversão não é limitado pela cadeia ligamentar de inversão, seguindo duas linhas de tensão, a linha de tensão principal parte do maléolo externo e a linha de tensão acessória inicia no maléolo interno; o relevo astragaliano constitui dois pontos de chegada e três pontos de partida ligamentares. Na inversão os ligamentos podem ser rompidos, principalmente o fascículo anterior do LLE da articulação tíbio-tarsiana.(KAPANDJI,2001)
Na eversão,os ressaltos ósseos são preponderantes, também há duas linhas de tensão na cadeia ligamentar de eversão. A linha de tensão principal inicia no maléolo interno, utilizando os dois planos do fascículo anterior do LLI da tíbio-tarsiana, enquanto a linha de tensão acessória se origina no maléolo externo. O relevo ligamentar, o tálus recebe duas chegadas e é a origem de duas saídas ligamentares. Muito comum a fratura dos maléolos, sendo o externo fraturado em primeiro lugar.(KAPANDJI,2001)
Os músculos extrínsecos cruzam o tornozelo, enquanto os músculos intrínsecos possuem ambas as inserções dentro do pé.( HALL,2005)
Os flexores dos artelhos incluem os flexores longo e curto dos dedos, o quadrado plantar, os lumbricais e os interósseos, além dos flexores longo e curto do hálux que realiza a flexão deste.( HALL,2005)
A extensão ativa é de 50-60° superando a flexão ativa que é de 30-40°. A extensão ocorre devido a três músculos, dois músculos extrínsecos, o extensor longo dos dedos e o extensor curto dos dedos. O músculo extensor longo dos dedos também é, flexor do tornozelo.( HALL,2005; KAPANDJI,2001)
Os músculos interósseos, assim como na mão, se dividem em quatro interósseos dorsais e três interósseos palmares. Também existem quatro músculos lumbricais anexos aos tendões do flexor comum dos dedos. (KAPANDJI,2001)
Os músculos da planta do pé estão dispostos desde a profundidade até a superfície em três planos, um plano profundo, composto pelos interósseos e os músculos anexos do 5° dedo e do hálux; um plano médio, formado pelos músculos flexores longos e um plano superficial composto pelo flexor plantar curto.( KAPANDJI,2001)
O tríceps sural, composto pelo gastrocnêmio e sóleo, com o tendão de Aquiles em comum, realiza a extensão do tornozelo, além de outros cinco músculos, como os fibulares laterais longo e curto, o tibial posterior, o flexor comum dos dedos e o flexor próprio do hálux.( KAPANDJI,2001)
Os flexores do tornozelo são o extensor próprio do hálux, o tibial anterior, o extensor comum dos dedos e o fibular anterior.( KAPANDJI,2001).
Fonte