Posturas Estáticas de Alongamento no Tratamento da Hiperlordose Lombar: Estudo de Casos
INTRODUÇÃO
Desde os primórdios, observa-se a necessidade que o ser humano tem de descrever minuciosamente o funcionamento do seu organismo. Com o passar do tempo e com os avanços tecnológicos, esses conceitos passaram a ser mais globais e mais aceitáveis, envolvendo todo o corpo humano (1).
Baseado nesse contexto, surge a definição de fáscia como sendo um conjunto membranoso, muito extenso, no qual tudo está ligado em continuidade, sendo uma entidade funcional que apoia todas as técnicas modernas da terapia manual. A noção de globalidade nos diz que o menor tensionamento, seja ele ativo ou passivo, repercute sobre o conjunto. Portanto, todas as peças anatômicas são consideradas mecanicamente solidárias entre si, em todos os campos da fisiologia (2).
Quando se encontra sob tensão, o tecido conjuntivo vai apresentar alteração na substância fundamental, constituída pelos feixes de colágeno (que é uma proteína instável e de curta duração) podendo se tornar mais densos quando submetidos a estímulos repetitivos, a partir de sua organização em paralelo; pela rede de elastina (formada por proteínas estáveis); e pelo líquido lacunar (que ocupa todos os espaços livres entre as células conjuntivas) (2,3).
Essa alteração torna o tecido menos elástico, mais compacto e resistente, levando a alterações de outros sistemas, como o Sistema Linfático (2). Semelhante ao sistema sanguíneo, diferencia-se pela ausência de um órgão central bombeador e pelo fato de ser histoângico, isto é, microvasculotissular, que apresenta como funções importantes o retorno do líquido intersticial para a corrente sanguínea, a destruição de microrganismos e partículas estranhas da linfa e as respostas imunes específicas, como a produção de anticorpos (4,5,6,7,8).
O Sistema Linfático é constituído por um sistema vascular formado por um conjunto de capilares linfáticos, vasos coletores e troncos linfáticos, além dos linfonodos, encarregados de recolher da intimidade dos tecidos o líquido intersticial e reconduzi-lo ao sistema vascular sanguíneo. Estão incluídos ainda os órgãos linfóides, como as tonsilas (amígdalas), a medula óssea, o timo e o baço, exercendo funções imunológicas (4,6,7,8,9,10,11).
O capilar linfático é formado por uma única camada de células endoteliais, onde existem várias conexões com o tecido conjuntivo. Essas conexões são denominadas de filamentos de ancoragem, sendo de grande importância para o funcionamento do sistema linfático. A principal função desses vasos é a coleta da linfa do meio intersticial, ou seja, do líquido lacunar, constituindo o início desse sistema (7,8,12).
Segundo Leduc (13), a abertura dessas conexões será facilitada pelo movimento dos tecidos adjacentes. Quando está sob tensão, com suas fibras dispostas em paralelo, o tecido conjuntivo vai apresentar a função de condução prejudicada, pois os capilares linfáticos apresentarão dificuldade em desenvolverem sua função devido à diminuição do espaço lacunar, levando assim ao acúmulo de líquido.
O tensionamento do tecido conjuntivo pode ser observado nas disfunções posturais devido a vários fatores, como os vícios posturais, as alterações congênitas ou adquiridas, o sedentarismo, os fatores emocionais e socioculturais, o sexo, a raça, entre outras causas (12,13,14,15,16,17).
Neste estudo será dada ênfase à alteração postural denominada hiperlordose lombar, que se caracteriza pela acentuação da curvatura lombar decorrente do desequilíbrio da musculatura dessa região, ou seja, das retrações dos músculos íliopsoas e eretores da coluna, dando uma ideia de "falsa força" e do enfraquecimento dos músculos abdominais (14,18,19).
Dessa forma, surge a hipótese de que a protusão abdominal, muitas vezes associada a essa alteração postural, não se deve apenas à fraqueza da musculatura abdominal e à desorganização postural, mas também ao mau funcionamento do sistema linfático, que aparenta estar formando um edema de baixo fluxo.
Um dos métodos utilizados no tratamento dessa alteração postural são as Posturas Estáticas de Alongamento, baseadas no alongamento isotônico excêntrico. Alongamento, por se referir ao afastamento da origem e inserção, e isotônico excêntrico por trabalhar exigindo contração muscular, permitindo o ganho de tônus (20,21).
Essas posturas consideram o sistema muscular de forma integrada e abordam o indivíduo como um todo, possibilitando colocar todas as cadeias musculares sob tensão, evitando compensações, permitindo o alongamento muscular e de todas as estruturas que estão a sua volta. Desta forma, proporcionam um alongamento mais eficaz, visto que promove uma resposta viscoelástica nos tendões e ativa a síntese proteica. Como a tensão fornecida é prolongada, admite que as moléculas de colágeno se organizem em série e as fibras colagenosas e os feixes conjuntivos alonguem-se, permitindo que todos os sistemas reorganizem-se, inclusive o linfático (22,23,24).
Diante do exposto, este estudo tem como objetivo avaliar se existe correlação entre o tensionamento do tecido conjuntivo, em virtude da hiperlordose lombar, e o aumento da circunferência abdominal, decorrente de um possível acúmulo de líquido nessa região.
MATERIAIS E MÉTODOS
O presente estudo trata de um estudo de casos, de caráter experimental, intervencionista, descritivo e analítico, realizado com oito estudantes do Curso de Fisioterapia da Faculdade Integrada do Recife (FIR), sendo todos do sexo feminino, nulíparas, com dieta sem restrição alimentar, idade entre 20 e 30 anos, altura variando de 1,52 a 1,74m, e peso entre 52 e 81,5kg, portadoras de Hiperlordose Lombar associada à Protusão Abdominal. Para serem incluídas na pesquisa as pacientes foram submetidas a uma avaliação postural e exame radiológico da coluna lombar.
Foram excluídas desse estudo, pacientes que apresentaram alterações hormonais, dor lombar incapacitante, variação de peso com alteração significativa da camada de gordura da região abdominal, desejo de iniciar ou praticar atividade física, utilização de recursos como a drenagem linfática manual e dietoterapia durante do tratamento ou que se encontrassem no período pré-menstrual na época da avaliação.
Esta pesquisa teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Agamenon Magalhães, sendo realizada na Clínica-Escola de Fisioterapia da Faculdade Integrada do Recife (FIR), no período de Fevereiro a Maio de 2009, quando duas avaliações das voluntárias foram feitas, uma antes e a outra após dez sessões de tratamento. As pacientes foram informadas sobre os procedimentos e objetivos do trabalho e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido conforme resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Foi utilizada para a coleta de dados uma ficha de avaliação específica, dividida em anamnese e avaliação postural, contendo o Exame das Zonas de Retração e o Exame da Roda de Bicicleta. Além da utilização da Análise Fotogramétrica e Radiológica, Ultrassonografia, Bioimpedância e Perimetria.
- Avaliação Postural
O Exame das Retrações proposto por Souchard (20) faz a análise das alterações posturais através de uma ficha de avaliação postural, contendo o exame das zonas de retrações da cabeça e pescoço (ZONA 1) , coluna dorsal (ZONA 2), coluna lombar (ZONA 3), pelve (ZONA 4), joelhos (ZONA 5) e pés (ZONA 6). Visa identificar qual cadeia muscular se encontra com mais alterações e quais são as melhores posturas a serem utilizadas durante a intervenção.
Através desse exame é possível evidenciar retrações tanto da cadeia anterior (projeção cervical anterior; retificação ou cifose cervical; hipercifose dorsal; hiperlordose lombar; anteversão pélvica; valgo e recurvatum de joelhos; pés planos), como da cadeia posterior (hiperlordose cervical; retificação ou lordose dorsal; hiperlordose, retificação ou cifose lombar; retroversão pélvica; recurvatum, varo ou flexum de joelhos; pés cavos).
O Exame da Roda de Bicicleta consiste na realização da flexão anterior do tronco pelo paciente com intuito de alcançar o chão, não sendo permitido que seja feita a flexão dos joelhos. Após três repetições desse movimento, foi mensurada com a fita métrica a distância da ponta do terceiro quirodáctilo ao solo, sempre da mão direita. Era observada a flexibilidade dos músculos posteriores, a presença de curvaturas anormais da coluna, o ângulo coxo-femoral, a presença de deformidades anatômicas nos joelhos e o ângulo tíbio-astragálico (22).
- Análise Fotogramétrica
A Análise Fotogramétrica foi realizada por meio de máquina fotográfica digital Kodak Easy Share C610, colocada sobre um tripé com altura de 95,0cm do chão com uma distância de aproximadamente 3,0m da voluntária e a mesma posicionada a uma distância de 1,5m da parede de fundo com a finalidade de obter uma análise qualitativa das alterações posturais. As fotografias foram tiradas com a paciente na postura ortostática, trajando roupas leves (top e bermuda), nos planos frontais (anterior e posterior) e sagitais (direito e esquerdo).
- Avaliação Radiológica
Na Avaliação Radiológica, as pacientes posicionaram-se na postura ortostática, descalças, fazendo 90º de flexão dos membros superiores. A incisão dos raios-X foi em perfil e tinha a finalidade de mensurar o ângulo lombossacro, medido com auxilio de um goniômetro e de uma régua, traçando-se duas retas, uma paralela à parte inferior do filme e a outra tangenciando o promontório sacral. O encontro dessas duas retas forma o ângulo acima citado. De acordo com Lippert (25), quando esse ângulo for maior que 30º podem ser considerados casos de hiperlordose lombar.
- Ultrassonografia
A Ultrassonografia foi aplicada sempre pelo mesmo especialista no ponto médio, demarcado por ele, entre a cicatriz umbilical e o púbis, com o intuito de medir a espessura da camada de gordura nessa região. Foi realizada com a paciente em decúbito dorsal sem fazer uso de travesseiro para apoio da cabeça. A mensuração foi feita da Fáscia do Músculo Reto Abdominal até o meio da Epiderme, seguindo protocolo proposto por Radominski (26).
- Bioimpedância
Através da balança digital medidor de taxa de gordura e líquido, marca Geom, realizou-se a Bioimpedância bipolar, com denominação "foot to foot" (pés). Durante o exame, as pacientes eram orientadas quanto à correta colocação dos pés na plataforma de base da balança, assim como sobre seu correto posicionamento durante a medição. Esse exame tinha finalidade de medir o percentual de líquido e gordura do corpo, assim como o peso da paciente.
- Perimetria
Na Perimetria a paciente se encontrava na postura ortostática, sendo orientada a permanecer numa postura confortável, mantendo os membros superiores relaxados e o seu ritmo respiratório normal. Tomando como referência a cicatriz umbilical, foram marcados dois pontos para medição da circunferência abdominal. O primeiro 2,0cm acima e o outro 2,0cm abaixo. Essa medida foi mensurada com intuito de controle do diâmetro dessa circunferência e foi feita com auxilio de uma fita métrica flexível, inelástica com unidade mínima de 0,1cm.
- Método de Intervenção
Durante o processo de intervenção, foram utilizadas as posturas de alongamento estático, com acompanhamento e observação de sinais apresentados pela paciente que pudessem interferir no desenvolvimento do trabalho.
As voluntárias foram submetidas à intervenção fisioterapêutica através da utilização de posturas de alongamento da cadeia posterior e anterior sem carga, com as voluntárias em decúbito dorsal, e com carga, com as voluntárias de pé, associadas à respiração suave e prolongada, numa freqüência de duas vezes por semana, com cada sessão tendo duração de aproximadamente uma hora.
- Postura de alongamento da cadeia anterior sem carga: as voluntárias foram posicionadas em decúbito dorsal com os quadris em flexão, abdução e rotação externa, os joelhos fletidos até completa aposição das plantas dos pés. Inicialmente foi realizada a pompage lombar e sacral, com a finalidade de retificação da coluna lombar seguida da pompage na região cervical e colocação de um suporte nessa região, se necessário, objetivando o alinhamento da coluna cervical. Para a manutenção da postura, a terapeuta utilizou comandos verbais e contatos manuais, com o objetivo de aperfeiçoar o alongamento e impedir compensações. As voluntárias foram solicitadas a realizar a respiração diafragmática através da inspiração suave e prolongada, com protusão do abdômen, seguida de expiração prolongada utilizando 2 tempos: o tempo 1 através da região superior do tórax e o tempo 3 através da região abdominal inferior.
- Postura de alongamento da cadeia posterior sem carga: as voluntárias foram posicionadas em decúbito dorsal, com a região glútea e os membros inferiores elevados, ambos em contato com a parede, estando os joelhos inicialmente em semiflexão e rotação externa e os tornozelos em dorsiflexão, com os calcanhares encostados formando um ângulo de 30° com os pés. Em relação à respiração, aos alongamentos e aos comandos verbais, foram seguidos os mesmos procedimentos utilizados na postura anterior.
- Postura de alongamento da cadeia anterior com carga: as voluntárias foram posicionadas de pé contra uma parede, quadril em flexão, abdução e rotação externa, estando os joelhos inicialmente em semiflexão, com os calcanhares encostados e formando um ângulo de 30º com os pés. Em relação à respiração, aos alongamentos e aos comandos verbais, foram seguidos os mesmos procedimentos utilizados na postura anterior. Nessa postura a ênfase foi dada na propriocepção da coluna lombar e na pelve.
- Postura de alongamento da cadeia posterior com carga: as voluntárias foram posicionadas de pé, podendo apoiar-se numa cadeira com o objetivo de não perder o equilíbrio, os braços estendidos, deixando a coluna ereta, quadril em flexão, abdução e rotação externa, levando a pelve a uma anteversão, estando os joelhos inicialmente em semiflexão, os calcanhares encostados formando um ângulo de 30º com os pés. A evolução da postura foi dada com a paciente flexionando os cotovelos, inclinando o tronco para frente, mantendo a anteversão da pelve e realizando a extensão dos joelhos. O limite da postura é o aumento das curvaturas fisiológicas, objetivando-se o alongamento da musculatura posterior.
Os dados foram avaliados através de uma análise estatística descritiva, apresentada por meio de gráficos ou tabelas, sendo em alguns casos utilizada porcentagem baseada em regra de três simples.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A bioimpedância é um método reconhecido pelo Ministério da Saúde Brasileiro para mensuração da composição corporal, visto que é um método simples e rápido, não-invasivo, sem contra-indicações e efeitos colaterais, além de ter baixo custo. Sua medida é feita através da passagem de uma corrente elétrica alternada senoidal mínima, imperceptível pelo corpo e calculada a partir do peso e altura do indivíduo. Cada conteúdo da composição corporal (massa magra, massa gorda e água) vai resistir ou atrasar a passagem dessa corrente de forma diferente. Será através dessas respostas que o analisador medirá a porcentagem de cada um desses conteúdos formadores do peso corporal (4,27,28).
A importância desse método no estudo foi permitir que ocorresse um controle de variáveis, como o peso total e a porcentagem de líquido e gordura, já que grandes variações dessas medidas poderiam demonstrar interferências na resposta esperada.
Conforme se pode observar na figura 1, seis das oito pacientes não apresentaram alteração de peso significativa. Nesse estudo, a alteração foi considerada significativa quando ultrapassou a medida de um quilograma para mais ou para menos do peso apresentado na primeira avaliação.
As duas pacientes que apresentaram significativa redução do peso (maior que dois quilogramas) foram questionadas quanto aos hábitos alimentares, à prática de atividade física e a utilização de outros tratamentos que pudessem levar a essa redução. No entanto, essas não relataram qualquer alteração na sua rotina diária, a não ser o aumento da carga de estresse.
Esse achado difere da literatura vigente, que apresenta o aumento da carga de estresse associado normalmente à elevação do peso corpóreo e não à redução. Talvez uma das explicações para o fato seja o aumento dos níveis de catecolaminas e cortisol na corrente sanguínea em situações de estresse, que em altas concentrações, estimulam a lipogênese, causando um excesso de gordura corporal (29,30).
Figura 1 – Comparação do peso corporal das pacientes antes e após a intervenção. Recife, 2009.
Analisando a figura 2, pode-se observar que a variação da porcentagem de líquido corporal apresentou uma variação máxima de aumento de 3,2%, e de redução de 0,4%. Apenas duas pacientes apresentaram diminuição desses valores, outras cinco apresentaram aumento e uma não modificou sua porcentagem.
Figura 2 – Comparação dos valores da porcentagem de líquido corporal das pacientes antes e após intervenção. Recife, 2009.
Na figura 3, que avalia a variação da porcentagem da gordura corporal, observa-se o aumento dessa porcentagem em apenas duas pacientes, sendo no valor de 0,3% e 0,5%, em outras cinco houve diminuição, sendo a variação máxima de 4,7%, e uma não apresentou alteração. Esses resultados são interdependentes do anterior, visto que é feita uma análise da medida corporal por porcentagem; assim, se existe alteração de uma das variantes, as outras também sofrerão variação.
Figura 3 – Comparação dos valores da porcentagem de gordura corporal das pacientes antes e após intervenção. Recife, 2009.
As alterações acima citadas mostraram-se irrelevantes e não influenciaram nos resultados, visto que relataram a composição corporal total, e não apenas da região abdominal, enfoque do presente estudo.
Para um maior controle dessas variáveis foram escolhidos outros métodos, como por exemplo, a Ultrassonografia, adotada por apresentar mais precisão nos resultados, assim como maior especificação da área a ser avaliada. Seu mecanismo se dá através de ondas mecânicas (sonoras) transmitidas por meio dos tecidos, seus ecos são recebidos, analisados, e posteriormente refletidos a partir da área que estará sendo avaliada, e o tempo utilizado para transmissão de ida e volta do receptor é transformado num escore de distância, permitindo, assim, a mensuração da espessura da camada do panículo adiposo (4).
Observando os achados da Ultrassonografia pode-se verificar que não houve alteração significante da medida do panículo adiposo. Essa alteração foi considerada insignificante se não ultrapassasse cinco milímetros para mais ou para menos da medida do primeiro exame, visto que, como é um exame muito minucioso, pequenas variações interferem no seu resultado como: peso do cabeçote, pressão utilizada pelo avaliador sobre a pele e o posicionamento da paciente. No entanto, trata-se de um exame bastante reprodutível e confiável. (Tabela1)
Tabela 1 – Valores da mensuração da espessura do panículo adiposo, antes e após a intervenção. Recife, 2009.
PACIENTES | ANTES | DEPOIS |
1 | 25,1mm | 25,3mm |
2 | 22,3mm | 23,1mm |
3 | 32,2mm | 31,5mm |
4 | 32,9mm | 34,84mm |
5 | 17,1mm | 15,33mm |
6 | 36,9mm | 39,6mm |
7 | 37,0mm | 42,0mm |
8 | 39,1mm | 39,53mm |
Diante dos achados acima citados, pôde-se observar que duas pacientes apresentaram alterações nos resultados da bioimpedância (redução do peso e da porcentagem de gordura geral) que poderiam interferir na diminuição do diâmetro abdominal. Porém, quando conflitados esses resultados com os valores encontrados na Ultrassonografia, verificou-se que em uma das pacientes ocorreu um aumento insignificante da camada de gordura da região abdominal (2,7mm) e na outra houve uma redução considerada também insignificante (0,7mm). De acordo com esses achados, observa-se que não houve uma alteração significante, nem para mais nem para menos, do panículo adiposo da região abdominal, demonstrando assim a importância da utilização desses dois métodos diagnósticos no controle desta variável (redução do panículo adiposo).
O Exame das Zonas de Retração e a Análise Fotogramétrica mostraram a existência em todas as pacientes de um predomínio de encurtamento nas musculaturas que formam a cadeia anterior, sendo evidenciada principalmente uma projeção cervical anterior; uma retificação dorsal; uma hiperlordose lombar; uma anteversão pélvica; um valgo e recurvatum de joelhos; pés planos (Tabela 2). Isso justifica a maior ênfase na utilização de posturas de alongamento desta cadeia.
Tabela 2 – Predominância em percentual, das cadeias musculares para cada zona postural das participantes antes da intervenção. Recife, 2009.
ZONA | ANTERIOR | POSTERIOR | MISTA | SEM RETRAÇÃO |
1 | 62,5 | 0 | 37,5 | 0 |
2 | 0 | 87,5 | 0 | 12,5 |
3 | 0 | 0 | 100 | 0 |
4 | 100 | 0 | 0 | 0 |
5 | 0 | 0 | 100 | 0 |
6 | 50 | 0 | 0 | 50 |
Após a realização das dez sessões pôde-se observar que as pacientes mostravam-se estruturalmente mais organizadas e com melhor consciência corporal, no entanto, o predomínio de encurtamento nessa cadeia continuava a existir em algumas regiões (Tabela 3).
Tabela 3 - Predominância em percentual, das cadeias musculares para cada zona postural das participantes após a intervenção. Recife, 2009.
ZONA | ANTERIOR | POSTERIOR | MISTA | SEM RETRAÇÃO |
1 | 12,5 | 0 | 0 | 87,5 |
2 | 0 | 87,5 | 0 | 12,5 |
3 | 0 | 0 | 87,5 | 12,5 |
4 | 87,5 | 0 | 0 | 12,5 |
5 | 25 | 0 | 75 | 0 |
6 | 37,5 | 0 | 0 | 62,5 |
Diante do exposto, observa-se que a técnica foi eficaz e houve melhora da retração de todas as cadeias. O fato da realização de apenas 10 sessões pode justificar a persistência das retrações da cadeia anterior. Com relação à hiperlordose lombar, objeto desse estudo, percebe-se que apenas uma das oito pacientes teve a completa correção da disfunção, as outras apresentaram melhora, mas continuaram a apresentar encurtamentos musculares nessa região.
A avaliação radiológica confirmou os achados anteriormente citados, em que todas as pacientes obtiveram melhora da angulação lombossacra (gráfico 4). No entanto, nessa avaliação, cinco das oito pacientes apresentaram correção da hiperlordose lombar, fato não observado no exame das retrações.
Figura 4 – Comparação dos valores do ângulo lombossacro das pacientes antes e após intervenção, Recife, 2009.
Os resultados da perimetria da circunferência abdominal mostram que após a intervenção todas as pacientes apresentaram redução das medidas, com uma média de variação de 2,5375cm (tabela 4), quando observada a mensuração realizada 2,0cm acima da cicatriz umbilical e 2,3875cm (tabela 5), no outro ponto em que foi mensurada. Esses resultados sugerem a melhoria da circulação linfática, que pode ter sido decorrente da liberação tecidual das fáscias, conseguida após o tratamento.
Tabela 4 – Resultados da perimetria realizada 2,0cm acima da cicatriz umbilical antes e após o tratamento. Recife, 2009.
PACIENTES | ANTES | DEPOIS | VARIAÇÃO |
1 | 76,5 | 76,2 | ↓ 0,3 |
2 | 71 | 70 | ↓ 1,0 |
3 | 86 | 80,5 | ↓ 5,5 |
4 | 87,2 | 83,5 | ↓ 3,7 |
5 | 70,5 | 68,5 | ↓ 2,0 |
6 | 88,5 | 85 | ↓ 3,5 |
7 | 95,7 | 94 | ↓ 1,7 |
8 | 83,1 | 80,5 | ↓ 2,6 |
Tabela 5 – Resultados da perimetria realizada 2,0cm abaixo da cicatriz umbilical antes e após o tratamento, Recife- 2009.
PACIENTES | ANTES | DEPOIS | VARIAÇÃO |
1 | 85 | 83,3 | ↓ 2,2 |
2 | 84,1 | 80 | ↓ 4,1 |
3 | 92,5 | 87,2 | ↓ 5,3 |
4 | 91,6 | 90,6 | ↓1,0 |
5 | 79,5 | 78,5 | ↓ 1,0 |
6 | 94,5 | 93,9 | ↓ 0,6 |
7 | 99,3 | 97,5 | ↓ 1,8 |
8 | 92,6 | 89,5 | ↓ 3,1 |
A reorganização do sistema linfático ocorreu pela melhora das retrações musculares mostrada nesse estudo. Acredita-se que, na presença dessas retrações, tal sistema passa a apresentar alterações na sua fisiologia, uma vez que o tensionamento do tecido conjuntivo vai dificultar a motilidade dos filamentos de ancoragem. Essa estrutura é de fundamental importância para circulação linfática, levando à formação de um edema de baixo fluxo, que pode ser denominado de edema de causa mecânica, por apresentar-se como resultado de uma carga linfática normal com capacidade de transporte reduzida (2,7,8).
Na retração muscular, há modificações de proteínas contráteis e de metabolismo das mitocôndrias, resultando na diminuição do número de sarcômeros e no aumento na deposição de tecido conjuntivo. Isso provoca a redução da força de contração muscular devido a não interação entre os filamentos de actina e miosina, trazendo prejuízo para a circulação linfática pela dificuldade da passagem de líquido para os capilares linfáticos (5,7,24).
Conforme foi relatado, a amostra apresentou diferenças nos resultados em relação à correção da hiperlordose lombar, que pode ser decorrente do fato do exame das zonas de retração ser uma avaliação de caráter visual e subjetivo, visto que analisando todos os resultados observou-se que mesmo ocorrendo a diminuição da perimetria, a camada de gordura não se alterou. Além disso, os resultados podem ter sido mascarados, uma vez que, durante a avaliação radiológica, observou-se melhora da angulação lombar, demonstrando assim a importância da mensuração do ângulo lombossacro.
Observando os resultados demonstrados nesse trabalho, pôde-se verificar que em todas as pacientes ocorreu essa correlação, visto que todas apresentaram melhora da hiperlordose lombar, com variação de até 10º de correção, e diminuição da protusão abdominal com diminuição de até 5,5cm desse perímetro.
CONCLUSÃO
Considerando os achados dessa pesquisa, pode-se dizer que todas as pacientes apresentaram melhora da hiperlordose lombar, ou seja, alongamento das retrações existentes, associada à diminuição do diâmetro abdominal, confirmando a correlação entre o encurtamento das fáscias musculares e a retenção de líquido na região abdominal.
Diante do exposto, justifica-se a necessidade de mais estudos, com um maior tamanho amostral, enfatizando essa correlação entre as retrações do tecido conjuntivo nas alterações posturais, sobretudo na hiperlordose lombar, e a retenção de líquido na região abdominal, uma vez que o presente trabalho, por se tratar de um relato de apenas oito casos, embora tenha tido resultados positivos, não pode ser extrapolado para a população em geral.
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Michelle Dantas de Azevedo(1); Aline Cavalcanti Bezerra(2); Karine Dantas de Azevedo(3); Adriana Maria dos Santos Maciel(4)