Dança é efetiva na reabilitação de cardiopatas, diz pesquisador
O reconhecimento do exercício físico como recurso terapêutico de primeira linha para os portadores de doenças cardiovasculares, pulmonares e metabólicas, como a obesidade e o diabete melito, é algo consensual, tendo sido consistentemente demonstrado em estudos científicos de qualidade.Neste contexto, a dança poderá ser uma opção promissora para substituir o exercício físico convencional.Esta é constatação principal de dois estudos realizados pelo Dr. Tales de Carvalho, cardiologista especializado em Medicina do Esporte de SC (Santa Catarina).
Entretanto, apesar da importância dos Programas de Reabilitação Cardiopulmonar e Metabólica (RCPM) com ênfase no exercício estar reconhecida na literatura, sendo fortemente recomendada pelas sociedades médicas, as condições oferecidas pelos programas convencionais nem sempre são atraentes para proporcionar uma boa aderência ao tratamento.
Nos programas convencionais a aderência costuma ficar abaixo de 50% no primeiro ano e de 30% no segundo ano.Neste contexto, a prática sistemática da dança de salão, considerada uma atividade lúdica e prazerosa, facilmente incorporada à vida social, poderia contribuir para o bom condicionamento físico e melhor controle do estresse, que são elementos essenciais no estilo saudável de vida.
Particularmente, poderia se constituir em uma forma eficaz de aumentar a aderência aos programas formais de incremento da atividade física.Entretanto, embora se constitua em estratégia promissora, a dança tem sido muito pouco explorada no âmbito da RCPM.
Em Florianópolis-SC, tanto na Clínica de Prevenção e Reabilitação Cardiosport (clínica privada), quanto no Núcleo de Cardiologia e Medicina do Exercício da Universidade do Estado de SC, onde são atendidos também pacientes do sistema público de saúde, embora habitualmente os pacientes sejam submetidos a programas convencionais de exercício, em algumas circunstâncias a escolha tem sido a dança de salão. No protocolo utilizado em nossos programas de reabilitação têm sido adotados ritmos variados, como forró, bolero, samba, merengue, valsa, rock and roll e salsa, em abordagem eclética, que atende a todos os gostos. Os ritmos podem ser combinados ou isolados, dependendo do objetivo de cada aula, evitando-se interrupções para o aprendizado técnico, prevalecendo o propósito de manter os pacientes o maior tempo possível na zona alvo do treinamento (ZA).
A frequência cardíaca (FC) durante as sessões de dança de salão costuma ser verificada após os pacientes dançarem uma música completa, sendo em geral verificada a FC em pelo menos três momentos por sessão. Os resultados preliminares dos nossos estudos ainda em desenvolvimento têm se mostrado promissores.
No recente congresso mundial de cardiologia, realizado em Beijing-China, o nosso grupo de pesquisa apresentou 2 estudos científicos sobre a dança de salão na RCPM. Em um deles, na comparação com o programa convencional a dança de salão se mostrou mais efetiva em situar os pacientes na zona alvo do treinamento (ZA), correspondendo à faixa entre 70 e 80% da FC pico de teste ergométrico (teste de esforço), realizado na vigência de medicação de uso corrente.Por meio da dança a ZA foi atingida em 77,5% das sessões e por meio do treinamento convencional em apenas 55%.
A dança proporcionou também de forma significativa que mais indivíduos atingissem a ZA, pois 88.5% deles a atingiram por meio da dança e apenas 62.5% pelo exercício convencional. No grupo da dança, 17,5 % dos indivíduos ficou aquém e apenas 5% além da ZA, enquanto no exercício convencional, respectivamente, 4% e 14%.
Autor: Dr.Tales de Carvalho - Cardiologista especializado em Medicina do Exercício.
Fonte:Revista do DERC.