Alterações Osteomioarticulares no Envelhecimento


O processo de envelhecimento vem normalmente acompanhado de um declínio das funções. Ao nos determos ao envelhecimento do sistema osteomioarticular, verifica-se a diminuição da massa musculoesquelética, da densidade óssea, tão como dos espaços articulares. E, alterações nos referidos sistemas são os grandes desencadeadores para afecções crônicas, que tendem a apresentar complicações e sequelas que comprometem a independência e a autonomia do idoso repercutindo em uma baixa qualidade de vida.


O envelhecimento não é uma soma de patologias agregadas e de danos induzidos por doenças. De acordo como esta afirmativa, é permitida a discussão no que se refere a envelhecimento fisiológico versus patológico. Inversamente, nem todas as mudanças em estrutura e função dependentes da idade podem ser consideradas alterações fundamentalmente ligadas à idade por si só. Permitindo avaliar esse processo de acordo com a senescência e a senilidade, em que cabe conhecer o envelhecimento fisiológico para que se possam distinguir as consequências do envelhecimento normal frente às manifestações, as quais se mostram com mobilidade e velocidade dos movimentos diminuídos devido o enrijecimento dos ligamentos e da degeneração das cartilagens.  Além de redução da massa muscular e aumento do tecido adiposo, diminuição da força muscular e a necessidade calórica diária, sendo que estas alterações citadas estão relacionadas ao sistema locomotor e quando se apresentam de forma exacerbada e/ou rápida, podem repercutir em uma homeostenose, tendendo a senilidade.

- Osso

O tecido ósseo apesar de possuir uma estrutura rígida, acaba tornando-se dinâmico, pois permite modelagem constante e o desenvolvimento de atividades metabólicas, esse tecido tem por funções gerais proporcionar uma sustentação, apoio, além de promover o sistema de alavancas, proteção e armazenamento de minerais. As células constituintes desse tecido são os osteoblastos, sendo estes células jovens responsáveis pela formação óssea propriamente dita, pois possuem a capacidade de sintetizar substâncias como o pró-colageno tipo I que por sua vez atuam diretamente no processo de formação do osso. Os osteoclastos são células responsáveis pela reabsorção e remodelagem do tecido ósseo. Já os osteócitos são células maduras localizadas dentro da matriz óssea possuindo assim uma manutenção na integridade da mesma.

A matriz óssea é composta basicamente por dois tipos de tecido: o tecido ósseo esponjoso e o tecido ósseo compacto, onde ambos possuem basicamente a mesma estrutura celular, mas possuem uma diferença, onde o esponjoso possui espaços medulares mais amplos, sendo formado por várias trabéculas, que proporcionam ao tecido um aspecto poroso e o compacto praticamente não apresenta espaços medulares.

O homem atinge o seu pico de massa óssea a partir dos 35 anos de idade, já que depois disto ocorre uma estabilização da taxa de formação e um aumento da taxa de reabsorção com isso ocorre à perda progressiva de massa óssea onde esse evento é denominado de osteopenia fisiológica uma vez que esse processo faz parte do envelhecimento normal do individuo. Por volta dos 40 anos de idade os indivíduos começam a diminuir o tecido compacto que compõe a matriz óssea o que gera um aumento de tecido esponjoso elevando assim as trabéculas ósseas, o que leva o individuo em alguns casos desenvolver determinadas patologias com comprometimento ósseo. Uma dessas patologias é a osteoporose.

A osteoporose caracteriza-se pela diminuição da massa óssea gerando um aumento da fragilidade do osso, o que deixa esses idosos mais susceptíveis, principalmente quando existe associação de anormalidades psicomotoras, perda da visão, uso de alguns medicamentos, consumo de álcool, tabagismo e massa corporal abaixo do peso ideal, ocasionando assim, um maior risco de fraturas, em especial, as do colo do fêmur. Representando assim, um marco perturbador e potencialmente perigoso no histórico de saúde pessoal desse idoso.

As fraturas intertrocantericas ocorrem em uma área extra-capsular constituída por osso esponjoso bem vascularizado. Verifica-se nas fraturas do colo do fêmur o suprimento de sangue limitado e desprotegido da cabeça  do fêmur, a localização intracapsular e grave atrofia trabécular  do colo do fêmur  representa fatores que, muito freqüentemente, impedem a  consolidação da fratura ou levam á osteonecrose e ao colapso segmentar tardio da cabeça do fêmur o que faz com que o idoso muitas vezes fique com seu movimento comprometido podendo até ficar incapacitado.

A maioria dos pacientes que sofrem fratura do colo de fêmur apresenta um traumatismo pequeno. E a presença de micro fraturas assintomáticas na trabécula do colo do fêmur levam ao questionamento sobre se é a fratura ou a queda que ocorre primeiro. Tratando-se da população idosa, as fraturas do colo do fêmur resultam geralmente de quedas a partir da posição ereta. A idade média da ocorrência de uma fratura do colo do fêmur é de 77 anos nas mulheres e de 72 anos nos homens. Homens podem sofrer 80 % destas fraturas, e a taxa de fratura duplica a cada década de vida após os 50 anos.

- Músculo Esquelético

O músculo esquelético é a maior massa tecidual do corpo humano. Com o envelhecimento, há uma diminuição lenta e progressiva da massa muscular, sendo o tecido nobre, paulatinamente, substituído por colágeno e gordura. Essa diminuição é de aproximadamente 50% em decorrência de uma atrofia muscular, onde se tem a perda gradativa e seletiva das fibras esqueléticas, especificamente de fibras musculares do tipo II.

A sarcopenia é denotada como um complexo processo do envelhecimento muscular associado à diminuição da massa, força e da velocidade de contração muscular. Tem como etiologia, uma causa multifatorial, envolvendo alterações endócrinas, no metabolismo do músculo, e fatores nutricionais, mitocondriais e genéticos, influindo também em condições ambientais e problemas comportamentais. O grau de sarcopenia apresenta-se de forma distinta, para diferentes músculos variando amplamente entre os indivíduos.

O envelhecimento está associado a uma diminuição da altura, do peso e do índice de massa corpórea (IMC). Na velhice, a massa muscular se relaciona com a força e esta, por sua vez, com a capacidade funcional do indivíduo. A sarcopenia, desenvolvendo-se por décadas, progressivamente diminui a capacitação física, acabando por comprometer as atividades da vida diária e de relacionamento, por aumentar o risco de quedas, levando por fim a um estado de dependência cada vez mais grave.

A sarcopenia contribui para outras alterações como idade, associadas como menor densidade óssea, menor sensibilidade à insulina e menor capacidade aeróbica. Longevos e velhos fragilizados têm menor musculatura esquelética, fruto do desuso, doenças, subnutrição e efeitos acumulativos da idade. É fato que a força muscular, a área de secção transversal do músculo e a relação entre ambas diminuam com o envelhecimento.

A musculatura esquelética do idoso produz menos força e desenvolve suas funções mecânicas com mais lentidão: diminuição da excitabilidade do músculo e da junção mioneural; há contração duradoura, um relaxamento lento e aumento do fatigamento; a diminuição da força muscular na cintura pélvica e nos extensores dos quadris resulta em maior dificuldade para a impulsão e o levantar-se; e a diminuição da força da mão e do tríceps torna mais difícil o eventual uso de bengalas. Conseqüentemente, o idoso terá menos qualidade em sua contração muscular, menor força, menor coordenação dos movimentos e, provavelmente, maior probabilidade de sofrer acidentes como quedas devido a uma aceleração na sarcopenia.

- Articulações

A cartilagem articular é o produto da secreção dos condrócitos, a qual é formada por uma matriz de colágeno tipo II altamente hidratada conjuntamente com agregados de proteoglicanos, os quais possibilitam as características de resistência, elasticidade e compressibilidade impostas pela articulação.

O envelhecimento cartilaginoso traz consigo um menor poder de agregação dos proteoglicanos, aliado à menor resistência mecânica da cartilagem. O colágeno adquire menor hidratação, maior resistência à colagenase e maior afinidade pelo cálcio. Tornando as articulações mais rígidas e menos flexíveis, podendo haver diminuição de seu líquido e um início de fricção das cartilagens. Permitindo a deposição de minerais em algumas articulações, que permitem uma ossificação articular.  As articulações do quadril e dos joelhos começam a perder sua estrutura, enquanto os dedos perdem cartilagem, esse fenômeno é mais comum em mulheres por questões hereditárias, e os ossos tornam-se um pouco mais espessos. Já as articulações dos tornozelos, em geral sofrem poucas alterações com o envelhecimento.

A artrose resulta da senescência e conseqüente destruição progressiva dos tecidos que compõem a articulação, em particular a cartilagem, conduzindo à instalação progressiva de dor, deformação e limitação dos movimentos. Inicialmente ocorre uma deterioração da cartilagem que perde a sua elasticidade o que diminui a sua eficácia e contribui para a sua destruição adicional com o uso repetido e a carga traumática. Todas as articulações podem ser envolvidas pela artrose, porém ela se manifesta em maior proporção: no quadril, nos joelhos, nos pés e na coluna, esta ultima, tem os seus discos intervertebrais mais achatados e menos elásticos e as vértebras sofrem pelo processo osteoporótico, as quais adquirem a forma de cunha originando o desalinhamento compensatório das vértebras dorsais e cervicais.

- Sistema Postural e Marcha

Há um consenso que os idosos diminuem sua capacidade de controle postural. Pois apresentam alterações comportamentais durante a manutenção da postura ereta. As quais estão associadas a alterações patológicas seja dos sistemas sensoriais e/ou estruturais. Apenas em idades mais avançadas é que estas diferenças poderiam ser imputadas as alterações sensoriais causadas pelo processo de envelhecimento, em função destas alterações serem mais dramáticas em idades mais avançadas.

As alterações comportamentais decorrem do aumento das oscilações corporais, as quais devem ser desencadeadas por alterações nos sistemas de controle postural, que esta relacionado às alterações estruturais e funcionais no sistema sensoriais e motor e a problemas na integração das informações sensoriais.

O processo de envelhecimento também causa mudanças estruturais e funcionais no sistema neuromuscular com a diminuição dos níveis de força, um aumento no tempo para produção de força máxima com o avanço da idade e redução na elasticidade do tecido conectivo muscular, e com isso pode levar os idosos a apresentarem menos graus de flexibilidade e conseqüentemente menor amplitude de movimento articular.

Também existem as alterações do sistema nervoso como: a diminuição na velocidade de transmissão do impulso nervoso nos neurônios sensoriais e motores; a diminuição do metabolismo cerebral; a redução da perfusão cerebral entre outros; poderiam estar interferindo no desempenho do sistema do controle postural.

Nos indivíduos de idade avançada é comum observar um aumento acentuado na cifose dorsal, como a fraqueza da musculatura para-vertebral, sobretudo da região lombar, associado à redução na capacidade estabilizadora dos ligamentos anterior e posteriores da coluna vertebral ocasionaria uma redução na lordose lombar fisiológica, que por sua vez modificaria a localização do centro de gravidade levando o individuo a buscar um novo posicionamento na postura ereta, com o aumento da cifose dorsal e na base de sustentação. A anteriorização da cabeça acompanha a cifose aumentada tentando manter o olhar horizontalizado e levando o centro de gravidade para frente, podendo levar a sensação de tonteira. As alterações posturais podem causar dor e redução de movimento da coluna vertebral, principalmente os movimentos sutis de rotação envolvida no rolamento segmentar e padrão recíproco normal dos membros na marcha normal.

A marcha é uma atividade simples da vida diária e uma das principais habilidades do ser humano. Esta atividade é comum a todas as idades, raças e gêneros. Desta forma, torna-se uma das mais importantes atividades realizadas pelo homem.  A partir da segunda metade da sexta década de vida, começa a ocorrer um declínio da velocidade da marcha, uma redução do comprimento do passo e da cadência, além de distúrbios da coordenação entre os membros superiores e inferiores, aumento da base de suporte e o tempo de permanência na fase de duplo apoio, como estratégia para ganho de estabilidade. Sendo assim a marcha do idoso demonstra uma alteração sistêmica envolvendo estruturas osteomioarticulares.

Para que o processo de locomoção do corpo humano seja executado de forma satisfatória é necessária a integração dos movimentos de forma sistêmica. Fatores na marcha são interferidos com a idade, pois a mesma torna-se mais lenta principalmente nas mulheres ocorrendo modificações no comprimento e na freqüência da passada alterando a velocidade da mesma. Elas tendem a permanecer com os pés em maior contato com o solo apresentando uma menor elevação do calcanhar, ocorrendo uma diminuição da fase de balanço com aumento da fase de duplo apoio, pois a tendência é manter os pés em maior contato com o solo devido principalmente à perda de equilíbrio, além de questões como a visão turva, diminuição da amplitude dos movimentos e a perda gradual do equilíbrio podem interferir diretamente nesse processo, o deixando mais susceptível a quedas, fraturas e lesões, o tornando cada vez mais dependente.

Sendo assim, um envelhecimento bem sucedido é acompanhado de qualidade de vida e bem estar e deve ser fomentado através da mudança de hábitos de vida, seja pela ingestão de uma alimentação saudável, tão bem como a prática de exercícios físicos.

A intensidade do exercício é a variável mais importante para melhorar a força e a função nos idosos. O treinamento de força em alta intensidade (60 a 80% como maximo de uma repetição) comprovadamente é seguro e resulta de ganho significativo de força, tamanho e mobilidade funcional do músculo mesmo nos idosos mais fragilizados. A melhora das forças nos membros inferiores tem impacto positivo na mobilidade e AVD's. Os indivíduos sedentários devem iniciar programas de exercícios nos níveis inferiores, aumentando progressivamente a intensidade, de acordo com a sua tolerância. Tendo restrição este treinamento apenas para indivíduos com artrite articular, pois podem não tolerar grandes forças compressivas através da articulação, necessitando de modificações na posição e intensidade do exercício.

O processo de envelhecimento é definido como dinâmico e progressivo por quais, todos os seres vivos passam. Esse envelhecimento é regido por alterações funcionais e morfológicas que promovem a perda da adaptação do indivíduo, ocasionando maior susceptibilidade ao aparecimento de processos patológicos. O ato de envelhecer altera as estruturas articulares, ósseas e musculares, onde questões patológicas associadas ao sedentarismo podem agravar esse processo de envelhecimento fisiológico e transformá-lo em um envelhecimento patológico que tende a interferir na dependência e na qualidade de vida do idoso.

Esse processo de envelhecimento pode ser visto em pequenos movimentos executados, onde suas deficiências nutricionais, funcionais e morfológicas refletem o quanto é difícil a prática de uma simples ação, porém a prática de exercício físico supervisionado, pode prorrogar e até mesmo melhorar os graus de independência dos idosos.
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