Diagnostico clínico postural: um guia prático
Como tratar sem um bom diagnóstico? Tentando diferentes técnicas de tratamento, até, eventualmente, o sintoma desaparecer. Isso é fato na área médica, e não seria exceção na fisioterapia.
O imenso desenvolvimento da medicina privilegiou técnicas radiológicas, o aprimoramento de materiais, a pesquisa dos melhores procedimentos cirúrgicos e os medicamentos. O ortopedista, o reumatologista, o clínico geral contam o tempo todo com novos remédios para tratar sintomas dolorosos e inflamatórios e também podem encaminhar ao fisioterapeuta que, possuidor de meios bastante eficientes de tratamento, aplica-os, em geral valorizando o sintoma clínico e os sinais radiológicos, sinalizados pelos médicos. Mas quem se preocupa com os detalhados e importantíssimos exames clínicos e, mais do que isso, quem se atenta em associá-los, tentando verificar o que é primário no conjunto de desvios e deveria ser o objetivo do tratamento?
A dor lombar ou a postura escoliótica, por exemplo, são em geral conseqüências de distúrbios situados em outro segmento corporal. Ao fisioterapeuta cabem o exame clínico detalhado e os diagnósticos de tais exames.
É urgente que todos os procedimentos clínicos para a elaboração de diagnósticos sobre o bom ou mau alinhamento postural sejam reunidos, discutidos, admitidos e aplicados por todos os profissionais que se dedicam ao movimento como meio de expressão artística, de prevenção, de distúrbios do aparelho cardiorrespiratório e musculoesquelético, ou como terapeutas que tentam recuperá-lo ou aprimorá-lo: professores de dança, bailarinos, professores de educação física, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicomotricistas e ortopedistas; utilizando-os como meio de expressão artística, como professores de dança e bailarinos; como meio de prevenção de distúrbios dos aparelhos cardiorrespiratório e musculoesquelético, como professores de educação física, rolfistas e outros.
Todos esses profissionais possuem métodos e técnicas de trabalho que por sua vez propõem formas de avaliação. No entanto, tais avaliações têm o objetivo de escolher no método de trabalho qual o procedimento mais adequado para aquele paciente naquele momento, utilizando linguagem e abordagens específicas, sem dúvida eficientes e úteis para os praticantes do método, mas incompletas e incompreensíveis para os não iniciados.
Sem abrir mão de suas ferramentas próprias de trabalho, todos poderiam adotar uma linguagem comum. O que é anteversão pélvica? O que é gibosidade? O que é translação de tronco? O que é arco plantar diminuído? Como fazer para diagnosticar cada um desses desvios? A partir daí, ou seja, de um novo ângulo de visão do mesmo problema, julgar se seus procedimentos terapêuticos são ou não úteis no tratamento daquela deformidade. Isso facilitaria o diálogo entre os diferentes profissionais, quando for necessário um cuidado multidisciplinar para a mesma pessoa. Poderia igualmente enriquecer o campo de atuação de cada profissional.
O objetivo deste livro é reunir o que já existe na literatura definindo diversos desvios posturais e as formas de avaliá-los. Partindo do capítulo "O exame estático" do livro Os desequilíbrios estáticos de Marceli Bienfait (Summus, 1995), esquematizei uma ficha de avaliação cujas anotações eram simplificadas e rápidas. Com o passar do tempo, acrescentei outras avaliações clínicas pesquisadas nas práticas da medicina ortopédica e algumas avaliações específicas de técnicas de tratamento que me pareceram de utilidade universal.
A ficha ampliou-se e me pergunto se estará completa. Claro que não. Nem sei se isso seria possível, mas chegou neste momento a conter um número de informações suficientemente testadas para a sua exposição, com o propósito de serem aplicadas, discutidas e complementadas por todos os que se dispuserem a isso. Cartas ao editor. Gostaria que cada leitor ao utilizar este livro como profissional o considerasse um caderno de notas redigido com muito cuidado, o qual poderá aprimorar-se em uma próxima edição.