Ritmo de vida da mulher influenciaria endometriose

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A vida da mulher mudou radicalmente depois que ela "saiu de casa" e passou a assumir outras responsabilidades que não a de cuidar da prole. A virada de mesa feminina teve, é claro, inúmeras vantagens, mas também parece ter aumentado a incidência de um problema sério de saúde. Trata-se da endometriose, caracterizada pela presença de células do endométrio (mucosa que reveste o útero) fora do lugar, podendo ocasionar dores fortes e até infertilidade.

A constatação é da Secretaria de Saúde de São Paulo, a qual, neste mês de outubro, divulgou um crescimento acentuado da incidência da doença no Estado. De acordo com dados do Sistema Único de Saúde (SUS), a quantidade de diagnósticos de endometriose aumentou cerca de 65% nos últimos sete anos. Em 2000, foram registrados 1205 casos da doença e, em 2007, esse número pulou para 3429

A patologia atinge entre 10% e 15% da população feminina em idade fértil, mas os números podem não representar a verdadeira incidência de casos, já que é uma doença difícil de ser diagnosticada.

"As causas da endometriose não são muito bem estabelecidas e ainda não existe 100% de cura para todos os casos", disse ao G1 o ginecologista Roney Cesar Signorini Filho, chefe da equipe cirúrgica de ginecologia do Hospital Pérola Byington, referência em saúde da mulher.

Segundo o médico, o diagnóstico definitivo de endometriose só pode ser estabelecido através de procedimento cirúrgico (videolaparoscopia ou laparotomia) e o tratamento abrange a administração de anticoncepcionais orais, injetáveis, cauterização ou, em casos extremos, a retirada do ovário.

O Pérola Byington atende pelo SUS uma média de 300 pacientes por mês com sintomas de endometriose (diagnóstico presuntivo) e realiza em torno de 32 cirurgias de videolaparoscopia no mesmo período. Dessas, cerca de 20 recebem o diagnóstico definitivo da doença, o que representaria a confirmação de 60% das suspeitas


Menos filhos, mais estresse

O médico Roney Signorini, do Hospital Pérola Byington (Foto: Carla Ferenshitz/G1)Apesar de não se saber exatamente os motivos que levam ao aparecimento da doença, alguns médicos suspeitam que o estilo de vida da mulher moderna tenha influência nas causas.

A necessidade de trabalhar fez com que a maternidade fosse adiada ou, até mesmo, descartada por muitas mulheres. Esse fato, associado a outros como o estresse, aumentaria a possibilidade da ocorrência do fluxo retrógrado -- quando a menstruação, ao invés de sair, volta para a cavidade abdominal.

Esse "deslocamento" do fluxo menstrual provoca, na maioria dos casos, fortes dores pélvicas, intervindo na qualidade de vida da mulher.

Outros sintomas associados a endometriose incluem dor durante a relação sexual e incapacidade de engravidar. A extensão da doença, entretanto, nem sempre é proporcional à intensidade dos sintomas. "Os sintomas não são necessariamente mais fortes em pacientes com grau avançado da doença", disse Signorini, que acrescentou: "Existem pacientes que não sentem nada".



A teoria de que a vida moderna teria influência na incidência da doença tem algumas explicações. O estresse entraria como agente ao provocar alterações no sistema de defesa do organismo, deixando as pacientes mais suscetíveis à doença. E o fato da mulher ter menos filhos vem do fato de que, durante a gravidez, ela não teria a influência dos hormônios responsáveis pelo desequilíbrio, já que durante os nove meses de gestação ela não menstruaria.

Menstruação interrompida

Interromper a menstruação ainda é a melhor maneira de driblar a doença, a qual, embora não ofereça risco de morte (excluindo os riscos presentes em qualquer cirurgia), causa grande desgaste físico e psicológico às pacientes.

A dona de casa Silvana Real dos Santos, de 38 anos, diz que sempre sofreu de fortes cólicas menstruais e que, há sete anos, após passar por vários médicos que não identificavam a causa das dores, descobriu que tinha endometriose severa a partir de uma videolaparoscopia realizada pelo Hospital Pérola Byington. "Foi o que me salvou", disse a paciente, mãe de uma menina de 17 anos.

"Ficava estressada, nervosa e irritada por não saber o que era. Costumava ficar sete dias dolorida e não levantava nem para fazer café para as visitas. A dor não passava mesmo quando tomava Buscopan na veia", relatou.

Depois que o diagnóstico foi dado, Silvana começou um tratamento que interrompe a menstruação de forma contínua e se viu livre das dores crônicas de 12 anos.

Fisioterapia no alívio da dor
Em casos em que a dor persiste mesmo com tratamento médico, ou se a paciente deseja interromper a medicação para engravidar, a fisioterapia pode ser uma alternativa no alívio da dor, a qual, se não controlada, constitui um potente agente causador de estresse.

Através de exercícios físicos como alongamento, eletroterapia, técnicas específicas de massagem, exercícios respiratórios e relaxamento, a qualidade de vida da paciente pode ser restabelecida de forma saudável e sem contra-indicação, segundo a fisioterapeuta Karina Friggi Sebe Petrelluzzi, que abordou o assunto em sua tese de mestrado, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

A Unicamp realiza esse tipo de atendimento a pacientes de endometriose há alguns anos pelo serviço de fisioterapia do CAISM (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher), de forma bem-sucedida.

Nos mesmos moldes da Unicamp, a clínica de fisioterapia da Universidade São Marcos iniciou, neste semestre, um atendimento gratuito a pacientes de endometriose em São Paulo. "A intenção do programa é basicamente melhorar a qualidade de vida dessas mulheres", explicou Petrelluzzi. Em conjunto com a fisioterapia, as pacientes também recebem auxílio psicológico de profissionais voluntários
"Muitas vezes a dor não some totalmente, mas [o tratamento] muda a forma da paciente enfrentá-la. Ela passa a enxergar a doença de outra maneira", disse a fisioterapeuta, que acompanhou os atendimentos em Campinas e agora integra a equipe de São Paulo.

Serviço

Hospital Pérola Byington

Rua Brigadeiro Luís Antônio, 683

Telefones: 11 3112-1181 ou 11 3242-3433



Clínica de Fisioterapia da Universidade São Marcos

Rua Clóvis Bueno de Azevedo, 145 - Ipiranga

Telefones: 11 6846-5310 ou 11 3491-0500
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