Consequências da imobilidade no leito
Muitas desordens do aparelho locomotor acontecem pelo longo período de imobilidade no leito onde há um decréscimo na atividade física e, por conseguinte, nos efeitos benéficos que ela produz. Não são apenas as desordens de origem neurogênica ou miogênica que levam a este quadro. Problemas ortopédicos, queimaduras, alguns tipos de infecções, alterações psiquiátricas e quadro álgico intenso levam o indivíduo a permanecer por um período prolongado de restrições no leito.
A síndrome da imobilidade é um conjunto de alterações que ocorrem no indivíduo acamado por um período prolongado. Independente da condição inicial que motivou ao decúbito prolongado, esta síndrome evolui para problemas circulatórios, dermatológicos, respiratórios e muitas vezes psicológicos. Muito da morbidade e mortalidade associada ao paciente restrito ao leito advém dessas complicações músculo-esqueléticas e viscerais.
Historicamente, sempre houve controvérsias a respeito do repouso prolongado. Sabemos que antigamente era parte do tratamento o paciente permanecer em repouso. A partir da segunda metade do século XX, principalmente com as implementações que ocorreram devido a II grande guerra, houve um avanço significativo na idéia de mobilização precoce dos pacientes acamados. Hoje, sabemos que um dos papéis mais importantes do Fisioterapeuta na unidade hospitalar é o da retirada precoce do paciente do leito evitando, assim, diversas patologias associadas ao longo decúbito como úlceras de pressão (escaras) e pneumonia. Algumas classificações são consideradas para este tipo de restrição. Acredita-se que de 7 a 10 dias seja um período de repouso, 12 a 15 já é considerado imobilização e a partir de 15 dias é considerado decúbito de longa duração.
Entenderemos melhor a síndrome de imobilidade no leito se conhecermos a biomecânica de nosso organismo. Sabemos que o ser humano é desenhado para ser móvel, principalmente porque 40% do nosso organismo é composto de músculos esqueléticos. Além do mais somos dependentes da atividade física para que haja a manutenção deste sistema músculo-esquelético e para a melhor função de nossos órgãos internos. Sabemos, por exemplo, que a reabsorção óssea é feita através dos estímulos de pressão e tração que este segmento recebe ao longo do dia onde nos locomovemos e pressionamos as estruturas. Outros exemplos da falta de atividade física são insuficiência cardíaca, deterioração articular, condições tromboembólicas, estase gastrointestinal e estase urinária. A patofisiologia das alterações que acontecem devido ao longo decúbito começam cedo e evolui rapidamente. Muitas das desordens são reversíveis mas quanto maior o período de imobilização mais difícil será a sua reabilitação. Abaixo listaremos os efeito adversos que ocorrem devido ao longo decúbito:
No sistema músculo-esquelético:
a) Hipotrofia, atrofia muscular e descondicionamento
b) Contraturas
c) Osteoporose e osteopenia
d) Deterioração articular
e) Ossificação heterotrópica
f) Osteomielite
g) Deformidades
Para estes pacientes preconizamos um trabalho de cinesioterapia motora inicialmente utilizando, se possível a cinesioterapia livre ou assistida e isometria e, quando em estados onde o paciente não é muito colaborativo usa-se a cinesioterapia passiva. Além disto deve-se fazer um programa de estiramento mantido visando trabalhar tanto o tecido conectivo quanto o alongamento da fibra muscular. Ortostatismo precoce (pode ser necessário o uso de tábua ortostática). A massoterapia é de fundamental importância para a liberação de aderências e "trigger points".
Na função visceral
a) Alteração no sistema respiratório
· Diminuição do trabalho com conseqüente perda de força da musculatura da ventilação
· Diminuição de volumes e capacidades pulmonares
· Estase de muco em áreas mal ventiladas levando a infecções pulmonares
· Atelectasias
· Dificuldade para tossir
· Broncoaspiração
b) Alteração do sistema cardiovascular
· Alteração no volume de distribuição dos fluídos corporais
· Descondicionamento cardíaco
· Hipotensão ortostática
· Trombose venosa profunda
· Tromboembolismo pulmonar
c) Alterações no sistema urinário
· Estase da urina
· Cálculo renal
· Infecções
· Bexiga neurogênica
· Incontinência
d) Sistema gastrointestinal
· Perda de apetite
· Incontinência fecal
· Fecaloma
· Constipação e obstrução
Mobilização precoce diminui a incidência de tromboembolismo e de trombose venosa profunda além de permitir a melhor oxigenação e nutrição do órgãos internos. A movimentação ativa quando possível, a mobilização passiva a massoterapia, padrões ventilatórios e uso de incentivadores inspiratórios são as principais formas de prevenir as alterações nos sistemas viscerais.
No sistema protetor
A úlcera de pressão é a mais comum alteração que acontece nos pacientes submetidos ao longo período de decúbito. Elas podem ser minimizadas por mudanças constantes de decúbito, uso de colchão especial, massoterapia, crioterapia e em estágios mais avançados a laser terapia.