As estatinas e o risco de demência
O aumento da expectativa de vida, observado nos países desenvolvidos, tem propiciado o crescimento da prevalência de doenças que incidem em pessoas idosas. Desta forma as demências vêm se tornando um sério problema de saúde pública.
A demência apresenta sua prevalência mais alta no segmento da população acima de 65 anos de idade.
Estudos recentes sugerem que 3% da população entre 65 e 74 anos podem apresentar a doença de Alzheimer, a causa mais comum de demência; este número aumenta para cerca de 20% no grupo de 75 a 84 anos de idade; e para as pessoas com 85 anos de idade ou mais o número pode alcançar 50%.
A demência é uma síndrome decorrente de uma doença cerebral, usualmente de natureza crônica ou progressiva, na qual há uma perturbação de múltiplas funções intelectuais, incluindo a memória, o pensamento, a orientação, a compreensão, o cálculo, a capacidade de aprendizagem, a linguagem, o julgamento e a personalidade.
A consciência permanece preservada até estágios avançados da doença. Essas alterações são comumente acompanhadas, e ocasionalmente precedidas, por deterioração no controle emocional, comportamento social ou motivação.
A demência resulta de uma ampla variedade de condições, incluindo distúrbios degenerativos (doença de Alzheimer, degeneração do lobo frontal, doença de Parkinson e outras), vasculares (obstruções múltiplas de grande artérias cerebrais ou múltiplos e pequenos infartos cerebrais), por tumores malignos, infecciosos, tóxicos (álcool e outras drogas) e psiquiátricos.
Um pequeno número dos casos de demência com início mais precoce dos sintomas, particularmente os casos de doença de Alzheimer e degeneração do lobo frontal, ambos de caráter familial, parecem ter uma causa genética.
Mas a maioria dos processos patológicos envolvidos nos diferentes tipos de demência permanece ainda desconhecida.
Há evidências que sugerem uma relação entre os lipídeos e os distúrbios vasculares com as alterações cerebrais que estão presentes na demência.
Entretanto o conhecimento dos fatores que estariam envolvidos na demência em idosos ainda é pouco entendido.
Até o presente, nenhum agente farmacológico demonstrou ser claramente eficaz em evitar e controlar a deterioração intelectual que acompanha as duas síndromes mais comuns da demência: a doença de Alzheimer e a demência vascular.
Mas a possibilidade da relação das alterações dos lipídeos e dos vasos sanguíneos com a patogenia da doença levanta a hipótese de que o uso de medicamentos que controlam essas alterações pode ser útil no tratamento e na prevenção da demência.
As estatinas reduzem o risco de desenvolvimento de demência?
Um grupo de pesquisadores americanos, liderados pelo Dr. H Jick (do Boston Collaborative Drug Surveillance Program, Boston University School of Medicine), desenvolveu um estudo, no qual foi analisado o efeito potencial das estatinas e de outras drogas que controlam os níveis de colesterol, nos casos de demência.
O Dr. H Jick e seus colaboradores acompanharam pacientes, sem sinais de demência, divididos em três grupos.
O grupo I incluía pacientes entre 50 e 89 anos que faziam uso de estatinas ou outras drogas hipocolesterolemiantes.
O grupo II era composto por pacientes com hipercolesterolemia, mas que não usavam drogas para o controle dos níveis de colesterol.
O grupo III era formado por pessoas com idade entre 50 e 89 anos, sem sinais de hipercolesterolemia e que nunca fizeram uso de drogas para o controle do colesterol. Foram excluídos do estudo os pacientes com doenças que poderiam alterar os resultados, como aqueles com história de alcoolismo ou abuso de drogas ilícitas, câncer, psicoses, Doença de Parkinson, Síndrome de Down, doenças coronarianas, doenças renais crônicas, epilepsia e derrame cerebral.
Eles acompanharam os grupos selecionados durante 7 anos e avaliaram a incidência de demência em cada um desses grupos.
Os resultados obtidos pelo Dr. H Pick foram os seguintes: O grupo I era composto por 24.480 pessoas; 11.421 indivíduos faziam parte do grupo II e 25.000 pessoas pertenciam ao grupo III.
Ao longo dos 7 anos de acompanhamento, foram identificados 284 casos de demência. O risco de desenvolvimento de demência entre os pacientes que fizeram uso de estatinas foi cerca de 70% menor do que os pacientes que pertenciam ao grupo II e III, bem como aqueles que pertenciam ao grupo I, mas que usaram outros hipocolesterolemiantes.
Qual seria o mecanismo envolvido na proteção das estatinas contra a demência?
Como os pacientes que fizeram uso de outras drogas não tiveram o risco diminuído. Os autores acreditam que os níveis controlados do colesterol não estão envolvidos na diminuição dos riscos, uma vez que as outras drogas também diminuem o colesterol circulante.
As estatinas são consideradas atualmente, como as drogas mais promissoras no controle da hipercolesterolemia (excesso de colesterol no sangue).
Elas inibem uma enzima responsável pela síntese intracelular do colesterol (HMGcoA redutase). Diminuem os níveis de LDL (colesterol responsável pelos danos causados aos vasos sanguíneos e que levam a doenças como o infarto, o derrame e, possivelmente, a demência), provocam pequeno aumento do HDL (colesterol de boa qualidade, que protege o organismo) e pequena diminuição nos níveis de triglicérides.
Segundo o Dr. H Jick, as estatinas têm também outros efeitos que provocariam uma melhor irrigação sanguínea dos tecidos, como o aumento da síntese de oxido nítrico, uma substância que provocaria uma dilatação das artérias.
Na doença de Alzheimer, a perfusão cerebral está diminuída nas áreas afetadas do cérebro, os vasos sanguíneos apresentam alterações patológicas e os níveis de óxido nítrico estão diminuídos.
Portanto, os autores creditam que as estatinas protegeriam contra a demência por atuar em cada uma dessas alterações.
Uma dúvida importante dos autores era se essas alterações só eram evidentes na doença de Alzheimer, mas as estatinas parecem proteger também contra as demências vasculares, portanto eles acreditam que exista algum mecanismo comum entre as causas de demência.
Conclusão
O tratamento medicamentoso da demência é ainda precário.
E os estudos que avaliam a eficácia de drogas no controle e profilaxia da doença, inclusive o uso das estatinas, apresentam resultados controversos ou insuficientes para se padronizar o uso dessas drogas. Fazendo-se necessário o desenvolvimento de estudos mais conclusivos.
Assim sendo, atualmente, o uso de drogas nos pacientes com demência limita-se ao controle dos sintomas psicóticos que geralmente acompanham o quadro.
Com essa finalidade o uso de neurolépticos (o haloperidol, por exemplo) em baixas doses, de antidepressivos e dos benzodiazepínicos está indicado.
O tratamento abrange também a fisioterapia para manutenção das condições físicas e suporte e treinamento dos familiares envolvidos nos cuidados do doente.
Fonte: Boa Saúde Online
A demência apresenta sua prevalência mais alta no segmento da população acima de 65 anos de idade.
Estudos recentes sugerem que 3% da população entre 65 e 74 anos podem apresentar a doença de Alzheimer, a causa mais comum de demência; este número aumenta para cerca de 20% no grupo de 75 a 84 anos de idade; e para as pessoas com 85 anos de idade ou mais o número pode alcançar 50%.
A demência é uma síndrome decorrente de uma doença cerebral, usualmente de natureza crônica ou progressiva, na qual há uma perturbação de múltiplas funções intelectuais, incluindo a memória, o pensamento, a orientação, a compreensão, o cálculo, a capacidade de aprendizagem, a linguagem, o julgamento e a personalidade.
A consciência permanece preservada até estágios avançados da doença. Essas alterações são comumente acompanhadas, e ocasionalmente precedidas, por deterioração no controle emocional, comportamento social ou motivação.
A demência resulta de uma ampla variedade de condições, incluindo distúrbios degenerativos (doença de Alzheimer, degeneração do lobo frontal, doença de Parkinson e outras), vasculares (obstruções múltiplas de grande artérias cerebrais ou múltiplos e pequenos infartos cerebrais), por tumores malignos, infecciosos, tóxicos (álcool e outras drogas) e psiquiátricos.
Um pequeno número dos casos de demência com início mais precoce dos sintomas, particularmente os casos de doença de Alzheimer e degeneração do lobo frontal, ambos de caráter familial, parecem ter uma causa genética.
Mas a maioria dos processos patológicos envolvidos nos diferentes tipos de demência permanece ainda desconhecida.
Há evidências que sugerem uma relação entre os lipídeos e os distúrbios vasculares com as alterações cerebrais que estão presentes na demência.
Entretanto o conhecimento dos fatores que estariam envolvidos na demência em idosos ainda é pouco entendido.
Até o presente, nenhum agente farmacológico demonstrou ser claramente eficaz em evitar e controlar a deterioração intelectual que acompanha as duas síndromes mais comuns da demência: a doença de Alzheimer e a demência vascular.
Mas a possibilidade da relação das alterações dos lipídeos e dos vasos sanguíneos com a patogenia da doença levanta a hipótese de que o uso de medicamentos que controlam essas alterações pode ser útil no tratamento e na prevenção da demência.
As estatinas reduzem o risco de desenvolvimento de demência?
Um grupo de pesquisadores americanos, liderados pelo Dr. H Jick (do Boston Collaborative Drug Surveillance Program, Boston University School of Medicine), desenvolveu um estudo, no qual foi analisado o efeito potencial das estatinas e de outras drogas que controlam os níveis de colesterol, nos casos de demência.
O Dr. H Jick e seus colaboradores acompanharam pacientes, sem sinais de demência, divididos em três grupos.
O grupo I incluía pacientes entre 50 e 89 anos que faziam uso de estatinas ou outras drogas hipocolesterolemiantes.
O grupo II era composto por pacientes com hipercolesterolemia, mas que não usavam drogas para o controle dos níveis de colesterol.
O grupo III era formado por pessoas com idade entre 50 e 89 anos, sem sinais de hipercolesterolemia e que nunca fizeram uso de drogas para o controle do colesterol. Foram excluídos do estudo os pacientes com doenças que poderiam alterar os resultados, como aqueles com história de alcoolismo ou abuso de drogas ilícitas, câncer, psicoses, Doença de Parkinson, Síndrome de Down, doenças coronarianas, doenças renais crônicas, epilepsia e derrame cerebral.
Eles acompanharam os grupos selecionados durante 7 anos e avaliaram a incidência de demência em cada um desses grupos.
Os resultados obtidos pelo Dr. H Pick foram os seguintes: O grupo I era composto por 24.480 pessoas; 11.421 indivíduos faziam parte do grupo II e 25.000 pessoas pertenciam ao grupo III.
Ao longo dos 7 anos de acompanhamento, foram identificados 284 casos de demência. O risco de desenvolvimento de demência entre os pacientes que fizeram uso de estatinas foi cerca de 70% menor do que os pacientes que pertenciam ao grupo II e III, bem como aqueles que pertenciam ao grupo I, mas que usaram outros hipocolesterolemiantes.
Qual seria o mecanismo envolvido na proteção das estatinas contra a demência?
Como os pacientes que fizeram uso de outras drogas não tiveram o risco diminuído. Os autores acreditam que os níveis controlados do colesterol não estão envolvidos na diminuição dos riscos, uma vez que as outras drogas também diminuem o colesterol circulante.
As estatinas são consideradas atualmente, como as drogas mais promissoras no controle da hipercolesterolemia (excesso de colesterol no sangue).
Elas inibem uma enzima responsável pela síntese intracelular do colesterol (HMGcoA redutase). Diminuem os níveis de LDL (colesterol responsável pelos danos causados aos vasos sanguíneos e que levam a doenças como o infarto, o derrame e, possivelmente, a demência), provocam pequeno aumento do HDL (colesterol de boa qualidade, que protege o organismo) e pequena diminuição nos níveis de triglicérides.
Segundo o Dr. H Jick, as estatinas têm também outros efeitos que provocariam uma melhor irrigação sanguínea dos tecidos, como o aumento da síntese de oxido nítrico, uma substância que provocaria uma dilatação das artérias.
Na doença de Alzheimer, a perfusão cerebral está diminuída nas áreas afetadas do cérebro, os vasos sanguíneos apresentam alterações patológicas e os níveis de óxido nítrico estão diminuídos.
Portanto, os autores creditam que as estatinas protegeriam contra a demência por atuar em cada uma dessas alterações.
Uma dúvida importante dos autores era se essas alterações só eram evidentes na doença de Alzheimer, mas as estatinas parecem proteger também contra as demências vasculares, portanto eles acreditam que exista algum mecanismo comum entre as causas de demência.
Conclusão
O tratamento medicamentoso da demência é ainda precário.
E os estudos que avaliam a eficácia de drogas no controle e profilaxia da doença, inclusive o uso das estatinas, apresentam resultados controversos ou insuficientes para se padronizar o uso dessas drogas. Fazendo-se necessário o desenvolvimento de estudos mais conclusivos.
Assim sendo, atualmente, o uso de drogas nos pacientes com demência limita-se ao controle dos sintomas psicóticos que geralmente acompanham o quadro.
Com essa finalidade o uso de neurolépticos (o haloperidol, por exemplo) em baixas doses, de antidepressivos e dos benzodiazepínicos está indicado.
O tratamento abrange também a fisioterapia para manutenção das condições físicas e suporte e treinamento dos familiares envolvidos nos cuidados do doente.
Fonte: Boa Saúde Online